25 de nov. de 2009

Por uma vida menos bagunçada...


Desejava queimar todo e qualquer conto de fadas e príncipes encantados. Príncipes não existem. Não existem. ponto.

Olhava outra vez a cama bagunçada. As roupas espalhadas, toalha molhada, sapatos... A cadeira do quarto cheia de livros. Pra que mesmo perdeu o sábado prendendo estantes? Não importa.

As coisas dele se multiplicavam nos espaços vazios. Pia do banheiro sempre molhada, escova nunca na gaveta. Tesourinha - melhor não comentar. Havia papéis por todo lado, copo sujo sob a mesa de cabeceira, farelos de biscoito pelo edredom. Ele era amplamente destituído da capacidade de arrumar a cama, lavar os pratos, ou apenas colocar qualquer coisa no devido lugar. Será que estaria um pouco enraivecida?

E quem foi mesmo que disse que ela devia ansiar por aquilo? Pra que tanta pressa? Essa ansiada “junção” requer profunda maturidade, e agora era sabia o porquê. Nada de amor cor-de-rosa. Amar dá trabalho! Será que essas mocinhas, todas elas desesperadas por maridos, sabem disso?

Ah... Alguém devia ter ensinado na escola – muito mais importante que as técnicas de conquista de que fala a música, são as técnicas de tolerância à total falta de iniciativa masculina. Ah, Homens. Tão fortes certas horas, tão sonsos em outras.

E dizem que a culpas é das queridas mães, que resolvem criar principezinhos, incapazes de amarrar seus próprios cadarços... Será?

Arriscaria a campanha: Filhos de hoje, maridos de amanhã! Crie o "partido" que você gostaria de oferecer a sua filhA. Com “A” maiúsculo. Ou se inspirem no genro dos seus sonhos! Vai que funciona...

*Resolveu fazer uma pesquisa de mercado (já que pouco gosta de se intrometer em relacionamentos alheios...). Interrogou uma amiga, às beiras da festa de casamento:
- Namorei sete anos e decidi terminar. Ele era difícil demais!Cansei das briguinhas, do stress, da cobrança, da bagunça! Agora, tenho um ano com Paulinho. Ele disse que queria casar, eu topei.
- Hum... Então ele é mais “fácil” que o primeiro! Vocês devem combinar melhor...
- Que nada, amiga! Capaz de ser até mais difícil que o anterior! São novas cobranças, novas bagunças... Antes eu pelo menos eu conhecia bem todas!
- E você topou?
- pois é. E deixa eu falar devagar, pra não ser mal interpretada. Veja bem: não digo que é pra casar com qualquer um, sair correndo pra porta da igreja, não me entenda errado... Mas amiga, perceba, primeiro você tem que definir o que quer: se quer mesmo casar, se quer uma família.
- E depois?
- Depois, meu bem, a gente amadurece... ! E quando digo “amadurece”, quero dizer: entendemos que homens são homens, criamos nossos anticorpos, desenvolvemos nossa tolerância e fazemos o melhor possível pra mandar despercebidamente. Vez ou outra, funciona.se eu tivesse a maturidade de hoje antes, provavelmente teria casado com meu antigo namorado...

E lá se vão mais alguns quilinhos de sonhos e idealizações... homens certos, homens errados, maturidades... muito difícil aquilo tudo de uma vez!

Mentalmente, re-escutava o diálogo pré-nupcial, enquanto ele ajeitava a gravata.

Um beijo de café, e porta batida.

Não, ela não teria o resto da manhã pra arrumar aquela bagunça. Da última vez que checou, também tinha um emprego, e nos dois turnos - ou seja: restavam-lhe os segundos contados pra agarrar um iogurte e sair.

Olhou calmamente ao redor.

Seu quarto já não era o mesmo. Via o nome dele escrito em toda parte. E nos lençóis, o cheiro inconfundível, masculino, de seu amado. Lembrou do beijo de bom-dia. E da alegria da noite passada. Do abraço apertado antes de adormecer.

Bendita bagunça, pensou. Arrumaria tudo quando voltasse. E torceria, enfim, para que tudo estivesse mais uma vez bagunçado, na manhã seguinte.

Imagem: http://www.recomendocomcerveja.com/2008/03/03/bagunca-evolutiva/

12 de set. de 2009

Desejava ser mais que palavras, mas sentia que escrito era sempre o melhor de si.



Escrevia doce e lento, marcando suas palavras pelo tempo das cidades. Grafava como seus dedos pudessem tocá-la ao tocar cada tecla, como se ali pudessem ser apenas o que são: algo os unia entre uma e outra palavra anotada, algo de cúmplice dominava-os, e impossível resistir...

Tentou muitas vezes se afastar. Chega disso, pensou. Mas aquele mesmo impulso do primeiro dia, a curiosidade que amarrou sem dó seus olhos e seu coração as batidas do dela, aos seus olhares-sorrisos e inexplicáveis, aquela mesma curiosidade o conduzia de volta ao local e hora marcada. Lá estava ele, esperando que as palavras o lembrassem o gosto de um beijo passado.

Deve ser alguma mágica. Nunca sentiu parecido. Palavras não pedem licença. Aberta a página, ela te derrama qualquer coisa muito antes que se possa escolher. Se caminhava na primeira linha, aquele era, sem dúvidas, caminho sem volta, guiado por algo de paixão, algo de vontade, algo de raiva e frustração, impossibilidade, algo de saudade.

Até que suas palavras começaram a sumir. Esvaiam-se, dissipavam-se com o vento. Toda a escrita dissolvia-se, tinta frágil de caneta ou papel batido de fax mal passado, apagando sua estória e levando, impiedoso, o passado deles, a voz dela em seu ouvido, o carinho no pescoço, a presença.

Ausente em texto, ela seria esquecida, e ele esquecido, e suas vidas seguiram o rumo comum das pessoas que não escrevem sobre si mesmas. Das pessoas que não escrevem sobre o amor. Das medrosas demais para estampar seus lábios num papel, de modo que o outro leia, e beije, num encontro encantando de lábios-palavras.

O texto se foi e seriam agora apenas passagem. Novos textos cobriram seus contos. Novos beijos apagariam suas falas. Era o fim do portal que o guiava até ela, a interdição da ponte entre seus planetas distantes, ligação cortada e celular fora de área.

Sem as palavras, eram menos ainda que comuns. Era apenas the trobled water, passada e revirada, sem ponte, sem barco, sem nota. Sem o outro para lay me down, ou ease my mind.... Sem palavras-mãos pra acalentarem, suaves, seu rosto. Sem bote salva-vidas. Conto de fadas. Ou de bruxas. Não havia back-up pra tudo que podiam, mas deixaram, por esquecer.

18 de ago. de 2009

Mais uma ridícula carta. De amor.

Querido amor,

Vim te descrever algo especial do meu dia.
Vim por aqui porque aqui guardo minha poesia. E quem diria? Por tantos caminhos, vim descobrir um eletrônico pra mim mesma... Torço pra que minha eletrocarta chegue até você, pra que você me encontre aqui, falando de dentro de mim.

As estradas da Bahia são lindas. Nessa parte que passo, em especial, estou sempre rodeada de serras e chapadas, verdes e extensas, das quais absolutamente não sei o nome (essa minha falta de cultura geográfica!), mas conto com saber reconhecê-las se voltar por aqui, de tanto que as olho e nunca canso.

O sol em Barreiras é mais vermelho que de outros cantos que já vi. Ou mais laranja, tenho minhas dúvidas. Essa gema gigantesca iluminando o dia, forte e resistente como as pessoas parecem ser aqui. É um sertão com água, já que vejo rios em todo lado, mas sinto cheiro e gosto de sertão. É o sol do sertão que me queima a pele e o seu calor que resseca, sem dó, meus lábios.

Eu amo a estrada. Amo olhar pela janela e ver os lugares passando, amo me sentir viajante, andarilha sem muitos rumos, amo sentir que o mundo é tão grande, amo saber que meus pés pisam novo chão, que meus olhos vislumbram estas vistas pela primeira vez. Quero que me prometa, ou ao menos vigie essa minha promessa, de que mesmo quando achar meu lugar nesse mundo vasto, não vou deixar de juntar e levar tudo de mim ao desconhecido. Minha alma vibra explorando o novo. E estranhamente, esses meus passos aqui me aproximam do desconhecido que carrego por dentro.

Tenho viajado em silêncio. Até a idéia do som do carro é barulhenta demais pra mim. Deixo tudo desligado, exceto o coração. Não haveria mesmo música mais doce. Ele toca o dia e a saudade de você. Ele toca lembranças que nunca lembraria, palavras que jamais teria dado atenção. Gestos. Ele toca tanta coisa sua que não sabia que gostava. Ele toca a música de todas as coisas que quero dividir com você. Toca essa vontade de te ver e abraçar, de tanta coisa que ainda nem vivemos, mas que me vem, em música, exatamente agora.

Não bastasse essa alegria, hoje ganhei um presente. Peguei a estrada um pouco depois do programado e segui o pôr -do-sol. Sim, estava ali, estado de contemplação, justamente naquela hora do dia que eu mais gosto – quando o céu torna-se rosa, e mistura com os tons de azul, fazendo lilás... um degradê de tons de fogo alinhados com as montanhas. Não deve haver mais lindo horizonte.

Ah, sim, mas foi um presente pra mim. Sei que pode rir de tanta presunção, afinal o céu é céu e o sol é sol, mas este não era um céu ou sol qualquer. Era o meu sol, incandescente, espelho do mesmo ponto que energizo em mim, agora vivo e me beijando a pele. Era o meu céu, misturado em todas as minhas cores, com nuvens cor-de-rosa pairando sob meus corpos. Aquele, meu amor, foi o céu que sonhei, presente desembrulhado que só encontrei por ter vindo encontrar. Claro que chorei, como choro agora, só de lembrar... pessoinha chorona, essa eu.

De resto, a vida continua a mesma. Não cheguei a nenhuma grande solução, não achei a bendita resposta pra meu caminho daqui pra frente. No céu do meu sonho, agora real, não vi nenhum sinal ou seta pra me direcionar. Não achei a chave para meu mistério.

Só posso dizer que, se choro, é de alegria, e que a ausência das respostas não consegue esmorecer meu coração. Sei que tem um caminho pra mim, e não sei nem me explicar porquê, mas não estou ansiosa pra saber. Esta noite, apenas agradeço. E rezo pra que amanhã eu possa, mais uma vez, ver o pôr-do-sol. Quem sabe, nos seus braços.

Com amor e saudade,
Liana.

22 de jul. de 2009

"Eu rabisco o sol..."


- Você não vai acreditar... bateram no meu carro bem na entrada do trabalho essa manhã.
- E você?
- ...
- Ficou tudo bem com você?
- Hã...? Sim, tá, comigo está tudo bem...

Seus ritmos podiam até ser diferentes, mas os freios pareciam-lhe bem vindos.
Naquele momento, ela freou. Não buscava muito além de carinho em sua vida. Grandes amores são feitos de grandes gentilezas, lhe ensinaram.
Às vezes ela se perdia nos barulhos de seu mundo, às vezes se escondia atrás do áspero, tanto que era o medo de começar, medo de se deixar ir novamente, medo das tempestades e reviravoltas do caminho, de não estar pronta e incorrer nos mesmos, velhos, conhecidos erros. Tantas vezes não se sentia a mulher que gostaria de ser... Tantas vezes não se sentia pronta realmente para um outro alguém sua vida. Medo de machucar, medo de cair, medo de falhar e sentir outra vez... pequena.
Mas qualquer que fosse o ritmo, seus pensamentos revoltos não podiam frear seu coração. Sim, ele ainda dita regras por aqui. Os receios e dúvidas que rondavam sua cabeça desapareciam pelas batidas em seu peito – você pode estar errada, tudo pode dar errado, você pode não conseguir e o que restar serão novas marcas, algumas cicatrizes, uma ou outra recordação. Sim, pode acontecer. E pode acontecer... algo novo.
Pouca diferença faziam suas idéias, quando seus olhos brilhavam daquele jeito. Já não havia escolha, não havia ponderações, não havia. O caminho sob seus pés era o seu caminho. Ainda ensaiavam o ritmo do caminhar. Certeza apenas de que “sim, estava tudo bem” com ela.

21 de jul. de 2009

"Me conta agora como hei de partir..."


Vivia na ponta dos pés. Para os poucos que notaram, parecia estranho. Nem era tão baixa. Nem era baixa, em verdade. Caminhava na ponta dos pés, como se quisesse estar um pouco mais perto de Deus, pouco mais distante de tudo que fosse humano, terreno.
Coloridas sapatilhas, andava como quem baila.
(...)
Durante a conversa, sentiu algo estranho. A sola de seus pés, apoiada no chão. Calcanhares alinhados, de modo que era sugada pela força do movimento. Da ausência dele. Estática. Ela era chão, firme, parada na esquina. Ele perguntou se estava bem. Era a primeira vez que a sentia perto. Fez que sim com a cabeça, mas negou-se a emitir sons. Qualquer movimento em falso, qualquer barulho, poderia afastá-la daquela verdade.
(...)
Ele fez de tudo para mantê-la ali, mas era tarde. Malas prontas sobre a cama, naquele momento soube que ela jamais voltaria. Pensou no que dizer para despedir-se e não disse nada. Despedia-se desde o primeiro dia. Sempre soube que ela iria. Sempre soube que era passagem, e por isso alegrou-se e despediu-se em todos os momentos que tiveram. Estranho, pensou. Ela, na ponta dos pés, dirigiu-se silenciosamente até a porta. E partiu.
(...)
Ao passar por ali, sentiu saudade. Vaga lembrança de um dia em que seu mundo foi outro. Quando sentiu sem medo a presença dele e agarrou-se, também sem medo, ao que conheceu como amor. Ela o amou. Amou seus passos aqueles dias. Gostaria de encontrá-lo, de dizer-lhe isso, de dizer que nunca passaria, que não se deixaria esquecer. Viu a senhora do outro lado da vitrine, apoiada na ponta dos pés. Achou estranho aquilo, uma mulher na ponta dos pés. (...) Não era uma vitrine.

27 de jun. de 2009

Renascimento e Inipi.


Ninguém perguntou se estava preparada. Talvez seu primeiro nascimento também tenha sido assim. Talvez nunca se esteja preparado. Mesmo que se tente. Mesmo que se deseje. Fato é que estava ali, despreparada e corajosa, no afã de achar que tudo é possível, alcançável, realizável. Na ingenuidade de sua juventude. Obstáculos existem para serem vencidos, pensou. Mas não era tão simples assim. Havia o medo. Havia a dor. Havia montes e montes de poeira acumulada debaixo dos tapetes, e ela não viu quando tudo se tornou tempestade de areia... tentou controlar, lutar contra o que quer que queria levá-la, viu seu coração disparar e sua mente acelerar, desesperada. Não, nada adiantava. Não respondia a si mesma. Ou respondia a sua alma. Ainda não sabia distinguir. Enfim, rendeu-se. A dor dominava seu pequeno corpo e tudo que conseguia pensar era em nascer. Lenta foi sua morte, lento o caminho até a pequena porta, mas alegre o encontro com o luz. “Por todas as minhas relações”. O medo se foi, mas ainda sentia a dor e a vontade de livrar-se de toda a bagagem, de tudo que não lhe servia mais. Queria expulsar tudo que já não lhe cabia carregar. Caminhou trôpega até o rio, liberta de tudo que não fosse a si mesma, e banhou-se, como pela primeira vez. Ouviu o rio dar-lhe boas vindas. Ouviu a terra e o vento acolherem-na nos braços. Sentiu o fogo em seu coração. Era sua casa aquela floresta. Cada pedaço dela, era ela, multi-partida. Era a luz do sol e as gotas do orvalho. De fora do útero, sentiu-se imensa. Sentiu-se livre. Sentiu-se amor.

"E mesmo assim fica interessante, não ser o avesso do que eu era antes, de agora em diante ficarei assim... Desedificante."


“She knows she is beautiful. But she is not yet sure what to do with her beauty”

“- But, why?

- Life is just more interest with you in it.” (*)


E na sua busca por si mesma, e na sua busca por tudo que é profundo, ele era a companhia perfeita. Como um homem invisível, quem estava para preencher seu coração com todo aquele amor, tudo aquilo trazia e nunca soube como usar, alguém para receber todas as flores que guardara, alguém para querer bem. Sem maiores demandas, sem maiores descontentos.

Podia apenas gostá-lo. Descobri-lo aos poucos e mostrar-se, igualmente lenta, página por página de uma nova estória. Teriam tempo antes do encontro. Desta vez não se perderia em outro mundo. Estava ocupada descobrindo o seu.

Ele lhe falava com poucas palavras, ricas e belas, mas seria preciso calá-lo. Calá-lo antes que o que dissesse fosse distante do que queria, antes que suas palavras a afastassem do amor que sentia, antes que a pedisse para deixá-lo. Desde este instante, parou de perguntar.

Era novo demais o mundo o qual perseguia, e tinha medo. Ele era sua ponte com a realidade e aos poucos, ele deixava de ser real. Sua jornada era por conta própria. Ela ainda esperava vê-lo no fim do túnel. Ainda o veria no final do túnel?



(*) do filme, Fatal, de Isabel Coixet.

14 de jun. de 2009

"Você pode ir na janela, pra se amorenar no sol, que não quer anoitecer"



Quatro horas mais, quatro horas menos, fazia contas em sua cabeça. Se ao menos se encontrassem no transitar, não se sentiria tão sozinha.

“Não se preocupe” – ela falou. “Nada vai passar despercebido aos meus olhos”. Dias depois, perguntou-se se enxergava demais. Perguntou-se se via o que já não estava, se via além do que esteve, ou se o que vira tornara-se invisível aos olhos.

Como conduzir-se agora? Cada passo seu parecia afastá-lo um passo a mais, ou ele se afastava em passos completamente independentes dos seus, ou caminhavam para lados opostos mesmo quando desejavam se encontrar... Desejavam se encontrar? Será que é difícil me ver aqui, com você ainda dentro de mim? Seria mesmo tão difícil acreditar?

Seus olhos tropeçaram nas dores de desencontros antigos. Lassos. Cansados. Ali, paralisada no meio do caminho, sentiu-se no exato lugar onde esteve tantas outras vezes. Não sabia como havia retornado, o percurso lhe pareceu tão diferente! Mas ali estava ela, outra vez. Precisa mover-se, e rápido. Conhecia da ferrugem que lhe tomaria aos braços se insistisse. Conhecia as sombras do lugar-comum, outra vez morreria afogado, seu coração.

Desta vez, porém, tinha calma. Não iria gastar, veloz, o pouco ar que lhe restava nos pulmões. Não. Desta vez nadaria, suave, até a margem mais próxima. Buscaria uma linda, solitária e tranqüila praia, para ampara-se até o fim da tempestade.

E a tempestade era o silêncio. Se antes se encantaram, juntos, ela passou a cantar só, e agora quase não canta, é só saudade do encantamento. Não canta por saber que a sua música ecoa medo da despedida antes mesmo do encontro.

Apenas por isso, respeita o silêncio. E por isso odeia o silêncio. E por isso grita, vez ou outra. Mas, inevitavelmente, ainda sorri quando se lembra. Quando repete o disco que tocavam suas palavras. Ela escuta o mesmo disco e seu coração sorri.

Numa estrada fria e árida, ela segue assim. “uma metade cheia, uma metade vazia”. “Uma metade tristeza, uma metade alegria”. Ainda não pararam seus passos e ela segue, esperando, a magia da verdade inteira.


“E se o silêncio era amor

Ela sofria porque não sabia escutar.”

12 de jun. de 2009

It´s a busy highway...


Meu coração está ocupado.
- Riam, todos,
Façam suas piadas,
Seus irônicos comentários
Tentem me despistar
Com mapas e quilômetros

Meu coração está ocupado.
- Banalizem, todos,
Zombem explicitamente,
Suas tensas risadas
Profanem meus sentimentos
Com condições e ampulhetas

Meu coração está ocupado.
- Apunhalem, todos,
Envenenem meus pensamentos,
Seus pessimismos e desilusões
Armem-se de tudo que conhecem me abalar
Com seus amargos desencantos

Meu coração está ocupado.
- Questionem, todos,
Apresentem suas teses,
Seus elaborados discursos
Racionalizem meu processo
Com termos e contratos

Meu coração está ocupado.
- Riam, banalizem, apunhalem e questionem,
Despistem, profanem, armem-se, racionalizem
Com piadas, risadas, desencantos ou teses,
Com tudo mais que pensarem importar

Não ignoro quanto de mim compõe-se em "todos".
observo atenta cada um dos "todos" que moram em mim,
assisito a guerra travada em tabuleiro
e o movimento das peça, cada velha jogada
na dança distraída de uma nova batalha.

Ainda assim encontro paz -
Pois meu coração está ocupado,
e isso independe dos protestos, das jogadas.
e isso independe dos conflitos.
Meu coração está ocupado, pleno e feliz.


Foto retirada de - http://perdidoseimperfeitospensamentos.wordpress.com/2007/12/

8 de jun. de 2009

Estranha noite.


Não era uma tempestade, era apenas vento. Entretanto, batia de tal forma as janelas, que seu coração disparava de medo. Vento de inverno e lua cheia. Ele parecia irritado aquela noite, era uma noite de coisas estranhas. Ainda acordada às cinco da manhã, após incalculáveis tentativas de dormir, após abrir e fechar mais de dez vezes o computador, finalmente, desistiu. Ficaria acordada até clarear, esperaria a manhã, quando tomaria um café, seguiria para o trabalho.

Seu coração não aquietava.

Mais cedo, dirigia perto do farol e um vento estupidamente voraz sacudiu as pessoas na rua. Sentiu o próprio carro desequilibrar no asfalto, ouviu um estrondo, percebeu expressões tão pasmas quanto a dela vindas pelo lado de fora. Continuou sua rota, e mais a frente um curto-circuito em um poste – apagam-se as luzes por toda a rua, por outras ruas vizinhas, apagam-se as luzes em seu trajeto. Achou esquisito, e se assustou um pouco mais, mas ainda não havia medo.

Um menino chorando na escada do supermercado. Seu medo foi menor que a correspondência. Perguntou. Ele tinha sido agredido por outro passante, com quem cruzara instantes antes – negro alto e forte, com expressão tão pesada quanto a energia a sua volta. O menino foi apunhalado por uma lata de óleo, nas costas. Ela não sabia o que ele tinha feito. Não sabia se tinha feito alguma coisa. Era muito magro e não passava de um metro. Franzino. Devia ter dez anos. Quis abraçá-lo e dizer que a dor ia passar, mas apenas chamou o segurança. e falou duramente seu advoguês. Foi embora pensando em que tipo de ser humano se tornou. O que o mundo fez dela? O que fizera de si mesma? Entristeceu. Algo era maior que a compaixão. Perguntou-se se era medo.

Seguia a noite, acendeu um cigarro. Pegou uma taça, bebeu um pouco. Não costumava fumar. Concentrou-se na fumaça. Tentou tragar. Achou que era em vão. Não controlaria os ares aquela noite.

Voltou pra casa. O vento não a poupou. Nem um pouco. Nem por instantes. Ele brigava com as janelas e derrubava coisas. Despertava ruídos. Sentiu medo. Medo das coisas que não se explica. Quis pegar o telefone, ligar. Não o fez. Era seu ritual de passagem para vida adulta, quando agüentaria sem quebrar, nas ventanias e tempestades.

Não resistiu, acendeu as luzes. Ainda não conseguia enxergar. Rezou. Lembrou do protagonista do filme. O que afastou a mulher invisível escrevendo sobre ela. Pegou de volta o computador. Desatou em palavras, na esperança de afastar seus fantasmas e retomar seu sossego. Ah, era estranha a noite.

4 de jun. de 2009

Uma ou outra noite.


Uma súbita vontade de brindar com você.

Abrir a garrafa guardada, inaugurar as duas taças que ganhei de presente e para as quais sorrio sempre que abro o armário.

Vontade de ajeitar a sala, deitar nas almofadas, ficar em silêncio: o silêncio dos amantes, não constrangedor, não indelicado, o silêncio quebrado apenas por uma ou outra batida mais forte em seu peito, um ou outro beijo, ou pelo barulho distante de ondas do mar.

Vontade de observar com calma os traços de seu rosto. De sair decorando cada sinal, mesura exata de uma ou outra cicatriz, as pequenas marcas da sua história, alegrias, cansaços. Decorar seu jeito de espreguiçar, de rir, seu olhar compenetrado ou distraído. Decorar cada pedaço de você até montar um livro, ilustrado com suas gravuras.

Bater uma ou outra foto, apenas de cenas que tivessem cheiro, para perfumar meu quarto na sua ausência. E respirar você, numa pausa encaixada em seu pescoço que me levaria a quase adormecer, de êxtase e embriaguez.

Vontade beijar o canto de seus lábios por um longo, longo tempo, até que as bocas se procurassem, escorregassem uma na outra; até me aninhar em seus braços, enquanto você despenteia meus cabelos.

Brindaríamos com os olhos da intimidade, distraídos com a paz de um dia qualquer: a noite não marcada em calendário. Só mais uma noite – uma nossa noite - depois de acertamos os relógios para chegarmos, uma ou outra vez, juntos.

Colocaria um vinil na vitrola. Teríamos vinil e vitrola, e por insistência minha, logicamente. Você preferiria um ou outro giga de alguma coisa, em formato codificado demais pra meu entendimento. Riríamos da minha antiguidade. Sorriríamos à toa.

Antes de dormir, penso na dança que nunca dançamos, na noite que foi curta demais e que, de tão longa, ainda é, que ainda acontece pela sala, por toda a casa. Pergunto-me se a física quântica explica noites que se perduram no tempo e no espaço. Pergunto-me se alguma coisa explica. Pergunto-me quanto tempo vai durar. Pergunto-me se você saberia mais das respostas do que eu. Fico intrigada em minhas perguntas.

Penso tudo que ainda não sei sobre você. Em seus maus-humores, nos estresses cotidianos, nas preocupações. Penso no que tira seu sono e no que o traz pra você. Penso em como você deve ser nas manhãs de domingo, e o que preferiria pro café, almoço ou jantar. Penso em todas as preferências que desconheço. Penso no que detestaria e no que amaria a meu respeito. Penso se seria terno, e se me abraçaria em noite como essa. Se me abraçaria uma ou outra noite. Fico intrigada em meus pensamentos.

Ainda toca a música que não dançamos.
Disseram que dançando conhecemos o outro.
- Dança comigo antes de dormir?



Foto retirada de: http://roberta.atisano.zip.net/

1 de jun. de 2009

Outono ou nada...



É outono em meu peito. As folhas caem como se viram as páginas, e sigo, repaginando minha estória. É outono em meu peito. Vejo a sombra do inverno cobrindo a relva, enquanto os pés passeiam pelos feixes de luz de um sol que adormece. É outono em meu peito. A chuva cai, e sou a chuva, fluindo, derramando, alimentando a terra fértil de meus pensamentos, para evaporar em leveza e densificar em matéria. É outono em meu peito... Ao contrário do que pensam, sou feliz no outono. Minha alma brinda e comemora cada pedaço de calor que experimenta, dedicando-se com disciplina a longa faxina que antecede o inverno. Abençoado o sol entre os dias foscos da estação da aurora.
Sem pressa, sigo e percorro em paz os caminhos do outono - ele está dentro, tanto quanto fora de mim.
Sim, é outono em meu peito.



Texto escrito no outono/2009.

30 de mai. de 2009

"Será que meu plano é bom, será que é no tom, será que ele se conclui?"



Que doce foi provar meu próprio veneno...

Há coisas nessa vida que não se imagina até o dia que se sente. Não sabia o efeito de palavras. Eu, que as amo, que paraliso em seus mistérios e me deleito com suas peculiaridades, me sinto agora tão pequena, garota a cativar estátuas de Deuses. Não que os subestime, pois os respeita, mas foge-lhe aos olhos a verdade: seu poder.
Palavras que se reúnem poderosas, me reviram de dentro pra fora e roubam de mim tudo que mais acreditava ter: palavras.

Tantas vezes tentei em vão lê-las em seus lábios, encontrá-las soltas nos olhos, presas no sorriso, em um gesto qualquer... pedi, hesitei, deixei meus pensamentos passeando por lugares insossos, circulares, para em seguida repreendê-los como um boa mãe à menina levada.

Era outra vez ingênua em pensar que, poderosas como são, elas e seu criador não teriam tempo próprio. Tão impossível pressioná-las antes, quanto impossível fugir e evitá-las agora.

Sim, já vi efeitos de palavras, já ouvi tentativas tão vãs quanto a minha agora para explicar o que quer que seja que se sente... Não há palavra que agüente tanto baticum. Não há coração que chegue, não há cabeça que não gire, não corpo que não sinta, leve, enrubescer, bochechas quentes e vermelhas - pra colorir o pouco bege do meu rosto.

Fechei os olhos em cada pausa, li com demora cada frase. E se fosse um teatro, aquele era meu texto. Decoraria suas linhas, estudando as possíveis entonações e os gestos que poderiam se encaixar. Devoraria palavras, faminta, e, no entanto, mais completa do que soubesse imaginar.

Mas não era teatro. E qualquer coisa que dissesse a respeito seria grande demais, ou pequena demais, ou, sem sombra de dúvidas, clichê. Ainda é bom ouvir clichê? Porque tenho agora um repertório, rondando e sugando todas as minhas palavras, frases seguidas de exclamações, reticências, pontos, frases que colariam bem em qualquer cartaz, e as quais recitaria vorazmente pra você agora, se isso não me deixei ainda mais ruborizada – embaraçada em minhas próprias palavras.

Esta noite, minhas palavras são comuns. Coloridamente comuns.



*Foto retirada de:vidacheiadecoisas.wordpress.com/.../02/palavras

27 de mai. de 2009

Slowly.

Ela bebia lentamente, goles lentos, vagarosamente saboreados. Não fazia mais idéia do horário, sentia o princípio agradável da embriaguez acontecendo, tinha os lábios dormentes e o corpo relaxado. Até esboçava um sorriso e ao dar-se conta disso riu alto, gargalhou sozinha com os olhos centrados apenas no copo. Apreciava o tom interessante de sua bebida.

Ele aproximou-se e perguntou seu nome. Ela balbuciou qualquer coisa, ele já estava sentando ao seu lado, ela não queria companhia, mas sentia-se cansada demais para discutir, ele pediu mais duas doses, “e esta será a última” – ela pensou.

Ele falava demais, mas não a incomodava. Um tom de voz deliciosamente másculo, palavras que saiam doces no meio de um expandido sorriso. Ele tocou seus cabelos, e seus dedos passeavam sem propósito, deslizavam em espiral pelas pontas, enrolando-as entre os dedos, tocando-lhe acidentalmente o pescoço - o que a fazia arrepiar, e era, por vezes, difícil disfarçar. Não sabia como ele tinha chegado até seus cabelos. Mas não reagia.

Sentia sede pelo toque dele, sentia sede pelos dedos entrelaçados em seu cabelo, pela boca que falava sem parar. Ela queria que parasse, em um beijo em seu pescoço tão lento e longo quanto seus goles aquela noite. Fechou os olhos por um segundo e foi como se ele lesse sua mente, pois em seguida passava as mãos em sua nuca e a segurava, carinhoso e firme. Apoiou a outra mão em sua coxa, pernas dela cruzadas, ele não parecia ligar, nada era incomum ou desconcertante, era ainda o segundo drink, ele agia como se a conhecesse há anos, tocando-lhe com naturalidade e despretensiosamente.

Ela já respirava seu hálito, doce e seco como a bebida que escolheram. Ele passou os dedos em seus lábios, até que ela os entreabriu, respirando pouco mais fundo.

Foi quando ele a beijou pela primeira e última vez. Beijo quente e demorado, ele a sentiu entregar-se em êxtase e imaginou como a noite seguiria bem... Sentia desejo em cada canto daquele beijo, ela não era uma mulher qualquer.

Ela o beijou como se nada mais houvesse. Nem bar, garçons, nem noite, nem tempos. Beijou inteira, intensa e suave. Eles eram lentamente quentes, o que povoava os pensamentos dele com as mais “insólitas idéias”.

Ela descolou sua boca e pela primeira vez na noite, sorriu para ele. Olhou-o com o canto dos olhos, dos pés a cabeça. Era sua forma de agradecer. Puxou a bolsa, levantou-se. Levou os lábios e uma das mãos ao rosto dele, num suave beijo de despedida. Beijou sua face, do lado esquerdo.

Ele segurou sem braço, em protesto. O que ela estava fazendo? Aonde ia?

Ela não disse nada, apenas soltou-se com graciosidade, devolvendo a mão dele até a mesa. Deixou algum dinheiro para garantir sua parte da conta. E se foi.

Essa era ela.
E aquilo era tudo que desejava oferecer.

16 de mai. de 2009

Em que pese...


E nesse dia tiveram seu primeiro “não gosto”.

- Não gosto disso em você.

- E eu, tão pouco.

O primeiro não gosto é sempre estranho. Um atabaque vibrando no meio da orquestra. Um violino desafinando no meio do forró. Erva daninha num jarrinho de flores.

Não gostava de um monte de coisas, só que nenhuma das componentes de sua vasta lista tinha aparecido nele. Isso, até então. Estréia do primeiro item desagradante. E vice-versa? Não podia deixar de pensar que sim. Já que é deste lugar, de quando não gostamos de algo, do nosso descontento e da raiva, que transparece também a nossa sombra. Ela fica ali, exposta – reação que se torna ação, fenda aberta na máscara do novo.

Ambos viram razões pra não gostar, então.

O “não gosto” abusou um pouco seus ouvidos, dormiu do seu lado no travesseiro. “Não gosto”, esse monstrinho verde cintilante, iluminando o quarto bem além do agradável pra o sono ficar. Muriçoca chata e bzzz persistente. Precisava de uma raquete, e depressa.

Pensou em jogar “não gosto” pela janela. Pensou em mandá-lo de volta ao lugar de onde veio, em dar a própria sombra pouco mais de espaço e ignorar o mau-humor alheio que a presença dela costuma causar.

Mas falaram antes que pudesse se decidir. Congelou o tom de voz, tentando ganhar tempo, mais tinha esse defeito de fabricação: era óbvia demais.

- Tá tudo bem? Pensei que tivesse ficado chateada.... – perguntou ele, cutucando, ingênuo, a caixa de pandora - e facilitando as coisas pra ela.

- Fiquei.

- Ficou? Por causa de ontem? (perplexo)

- Foi.

- ..... (perplexo e semi-arrependido? Perplexo e reflexivo?).

- Imaginei. – concluiu ele, atestando o que ela já imaginava sobre seu tom, exatamente: óbvio.

Riu de si mesma enquanto deu vazão ao seu gênio irritadinha. Riu da situação. E riu dele. Perplexo.

E como tudo que a agrada, terminaria em piada.

- Então, se possível, não repete isso e blá, blá, blá... – imperativa. (de irritada, as vezes passava pra imperativa, era um outro mal).

- Ok, não foi o que quis dizer – sincero.

(Todavia, ressalte-se, nem tão obediente assim).

Daí ele vai, e volta com uma lembrança - ode elaborada ao “não gosto” que ela passou uma tarde fuzilando. Ele riu de si mesmo, dela, da situação. Era o cúmulo da cafajestagem. O cúmulo da audácia humana. E o cúmulo do engraçado. Adorou.

E, mais uma vez, sua balança pendeu pro lado dele.



11 de mai. de 2009

Contreras.

Caiu na mesma armadilha mais uma vez. E tinha medo do eco de suas palavras, doces ou amargas, novas ou antigas. Já não se sentia segurar em falar ou escrever nada, suas mensagens, soltas no espaço, eram entendidas por sua densidade e não vácuo que deixavam. Preocupava-se, mas não suficiente para parar de digitar.

Ela quer que o telefone toque, ela quer esquecer que o telefone existe, ela quer ter paz de tantos toques diferentes e desimportantes, ela quer se sentir importante pra alguém e ou que isso também deixe de ser importante. E logo.

Ela detesta ser a menina que chora. Ela quer ser leve e alegre. Ela não quer levar suas lágrimas pra ninguém, mas ela está carente de alguém para secar-lhe as lágrimas.

Ela cansa de sorrir demais, mas ela sorri quando lembra de você. E agora ela chora, achando que você não entenderia nunca. Que você a detestaria por isso. Que você vai achá-la fraca e emocionalmente desestruturada.

Desestruturada. Ela se sente assim também. E ela escreve enquanto espera ansiosa pelo toque do telefone. Ela está ansiosa o tempo inteiro. Ansiosa, ansiosa, ansiosa. Nada parece estar adiantando. Ela liga o som e não parece estar adiantando...

25 de abr. de 2009

“O que os olhos não vêem...” – Parte I, ou: quando é melhor não saber.



Até onde realmente eles não querem ver?

Fui uma adolescente rebelde que queria a verdade a qualquer custo. Depois de trezentos arranhões, diversas pedradas, umas quatro ou cinco facadas,e alguns tiros, fiquei convencida de que a verdade pela verdade nem sempre é o melhor caminho. Ah, ando cansada de mais essa falsa hipocrisia. De levantar bandeiras pelas bandeiras, sem considerar os reais sentimentos por trás disso tudo. Quem não mente, quem nunca mentiu, seja pra proteger alguém, por egoísmo, por medo?

Você estava saindo com aquele cara e de repente encontrou alguém mais interessante que ele, ou apenas percebeu, sem qualquer explicação razoável, que não tá afim. Vai dizer o que? Me desculpe, mas não gostei do seu papo e você me deixa entediada? Sim, porque essa é uma verdade bem comum... Ou que tal: eu detesto o jeito que você me pega. Seu beijo me desagrada. Você não me dá tesão.... Eu descobri que ainda amo o meu ex e o sexo com ele é muito melhor... Seria realmente necessário dizer isso pro outro? Mas é verdade.

Não viveríamos melhor com um “foi ótimo te conhecer, mas preciso ficar um tempo comigo mesma agora” ou quem sabe “reencontrei uma pessoa que ainda mexe muito com sentimentos meus e preciso saber onde isso vai dar...”

Sim, é mentira. Mas, sim, é verdade! Esses são os sutis traços de uma simples verdade resumida: “querido, eu não quero mais você”.

No auge da minha fase “cansei de levar tanta porrada”, tornei-me adepta desta tese e passei a entoar o mantra – se não me disse, é porque é melhor mesmo eu não saber.

Pois bem. Foi bom, mas durou pouco.

“O que os olhos não vêem...” Parte II, ou: Um prelúdio para quando uma coisa é aparentemente prejudicial, mas irá se tornar favorável.



Como para toda regra tem uma exceção, esbarrei na minha. Para esquecer mais rápido um fantasma estranho que tava me rodeando, resolvi ir no fundo do poço das verdades. Até agora não sei dizer se quis saber para esquecê-lo, ou se estava tão exausta de conviver com minhas próprias sombras sem enxergar nada escuro do outro lado... Mas, verdade seja dita, se parte disso tiver sido por “acaso” (e prossigo, ingenuamente, tentando me convencer que não foi minha energia que atraiu isso pra mim), uma outra parte foi devidamente perseguida, e com classe, pela minha pessoa.

Até ai, amigos, nenhuma novidade: quem procura acha mesmo.

E eu achei. Achei você embaixo de tantas e tantas máscaras que me senti constrangida... Ui, fiquei sem jeito mesmo... Por trás de tanto discurso, de tanta frase feita e que eu comprava (ah, tão facilmente comprava), vi você. Impressionante. Tanto tempo ao seu lado e eu não podia imaginar...

Claro que fiz a minha belíssima parte de fugir dessas verdades todas, de seus sinais, suas vertentes. Tapei os ouvidos para minha intuição (exatamente como eu sei que você fez, aliás, com cada projeção a meu respeito... não há culpados ou inocentes...), fechei os olhos.

E incrivelmente agora, pra te esquecer de vez, abri sem medos todas as portas da verdade. A verdade sem peneiras, sem critérios, tem efeitos colaterais dos quais eu já vinha esquecendo... não foi apenas te esquecer o que consegui. Não foi um simples virar de página, bola pra frente, constatar que não era pra mim. Ao abrir as portas e olhar pra você, senti muito mais.

Veio raiva. Traição. Depois, pena. Irritação por sua covardia, desprezo pela sua vaidade, ódio pelas suas intermináveis mentiras. Nojo do seu discurso. Auto-piedade por ter acreditado nele. Pânico por tê-lo defendido. Vergonha. Decepção.

Ah, essa decepção chatinha me acompanha sempre que lembro de você e tem roubado de mim tanta lembrança boa a nossa respeito. Dito e certo, eis o pior efeito colateral da verdade. Abrem-se as cortinas, derrubam-se as máscaras....

“O que os olhos não vêem...” Parte III, ou: Um ensaio sobre a sua cegueira. (e a vida como ela é).



Quer ouvir algo ainda pior? No meio de toda essa confusão, ainda resolvi a briguinha entre eu e minhas sombras. Sim! Pra ser sincera, estou orgulhosa! Modéstia de lado, antes eu, com meus erros, defeitos, antes eu com todas as minhas falhas, ditas, gritadas, antes eu observando-as, crescendo com elas. Antes eu que não tentei escondê-las de você. Antes tudo isso, do que suas falsas verdades e dificuldades veladas, do que sua pose de perfeito e toda essa poeira embaixo do tapete, esperando um vento qualquer pra empestear a casa inteira!

Que patético. Embaraçoso. Eu aqui, encarando a verdade e pensando: bem capaz de saber mais sobre ela, a seu respeito, do que você mesmo, de tanto que evita ver do outro lado do espelho.

É, deixa eu te contar a verdade... todo espelho tem outro lado, toda luz tem sua sombra, todo mundo tem defeito. Você pode fugir, pode correr, pode aperfeiçoar seu discurso, ou mesmo vendê-lo pra quem compra fácil, sem muitas exigências ou perguntas. Você pode até repeti-lo o suficiente para acreditar nele: você não erra, você não mente, você é leal e amadurecido, nunca injusto, nunca incoerente... Será que consegue? Por quanto tempo?

Quando resolver encontrar suas sombras, eu te desejo sorte. Espero que neste momento eu tenha mudado de lugar, e me encontre ao lado da compaixão e do carinho que um dia tive por você. Que o que quer que eu entendesse como amor possa voltar, ser um sentimento puro e bom por você, que eu possa ter maturidade de estender a mão e te receber depois que você atravessar toda a escuridão, porque essa parte, te garanto, você vai ter que trilhar sozinho. Inevitavelmente, eu também espero.

“O que os olhos não vêem...” Parte IV – ou "Meu caminho à morada dos astros."




Já existe em mim algo de melhor. Não sei se foi o passar dos dias, o desabafo, a catarse, a chance de curtir o retorno da minha alegria natural, de trazer de volta as cores aos meus dias... ou de elas voltarem, -simplesmente – acho que nunca vou saber.

Depois de tanto choro e tanta palavra, abro, feliz, as portas para sua partida.

Deixei a raiva esvair-se, e trabalho com cuidado qualquer mágoa que ainda possa estar escondida no meu coração. A decepção já dorme, tranqüila... E quem nunca se decepcionou?

Afirmo somente que te desejo o bem, o bom e o belo.

Desejo que construa tudo o que não conseguimos, que viva o amor, a alegria, o equilíbrio... viva.

Já consegui reconstruir algumas lembranças nossas e quero mantê-las assim, lembranças de dias azuis, de momentos especiais, de alguém que gostei e tive tanto carinho.

Não quero carregar nada além disso. Não quero vingança, não quero peso.

Sigamos em paz, eu e você.

Hoje, entendi quanto o “novo” requer de mim. Não posso ir em frente se trago você. Independe de serem coisas boas ou não. Preciso seguir inteira, e você já não é mais parte disso.

Portanto, pouso um sorriso em meus lábios e te digo: tudo de bom! Seja feliz...

E adeus.

" E lá se vai mais um dia..."



Ok. Ela ligou o ar condicionado. Não era bem “fã” do frio, mas pensou que isso poderia aproximá-los de alguma forma. Ou não. (...) E se fosse exatamente o oposto? E se ele não se aproximasse, e se o frio viesse e tudo ficasse ainda mais distante? O ar condicionado pode ter sido uma má idéia. Ariscava aumentar aquele vácuo que se formava entre os dois travesseiros da cama, e uma dor em seu peito a avisava que não deveria correr tantos riscos.


Deitou-se de costa e esperou. Viu-se rezando para que ele a tocasse, para que interrompesse aquele silêncio estúpido, para que apenas, pura, simplesmente, deixasse.

Desejou que deixassem pra lá. Que numa respiração um pouco mais longa, um pouco mais profunda, se desapegassem do que quer que estivesse prendendo-os em lados separados da cama, naquele e em todos os outros instantes.


Por favor. Bastava chegar um pouco mais perto. Basta não pensar mais nada. Por favor. Sua reza tornou-se esse pedido, repetitivo e ritmado, que dizia, “me abrace, por favor.”


........................................................


Ah, eram então mãos ásperas que os guiava naquele momento.


Seu jeito de funcionar não era nada prático e não, absolutamente, não ajudava. Pensou em mil formas diferentes de explicar.


Apegou-se a ele. Ela era de se apegar a coisas e pessoas, de quando e quando. Algumas vezes, se apegava a um trejeito ou mania específica, como um erguer de sobrancelhas, o jeito engraçado de se enroscar no travesseiro, as inúmeras vezes que repetia que a amava num mesmo dia. De outras, apegava-se a pessoa. Como se uma pessoa pudesse ser um cachecol, macio e suave, amarrado em torno do pescoço. Um piercing escondido. Um amuleto no bolso esquerdo.


Apego é algo diferente de amor. Ela amava e já havia amado e esquecido. Se apegara a ele, sua presença e seus carinhos, e não queria pôr nada disso a perder.


Estava, claro. Por isso, pensou mil formas diferentes de explicar.


Sabia como teria que ser. Não que quisesse assim, ah, queria tantas coisas, queria ser tantas coisas, queria espelhos maiores, queria saber o que queria sem precisar se esforçar tanto! Mas teria que ser assim. E assim não estavam sendo eles. Faltava... Assim:


- “blá, blá, blá, que raiva, blá, blá, blá, tudo errado, blá, blá, blá, já nem sei mais do que estou reclamando, que blá, mas tô irritada e blá, blá, blá, vai sobrar pra você”.

(“Blá, blá, blá” não é nada agradável. “Blá, blá, blá” é um saco.)


É quando, depois de um pequeno e tortuoso intervalo, chega a culpa. Os “blás” já estão todos bem soltos quando a culpa começa a corroer suas artérias e queimar no peito. Não, na cabeça. No peito. No estômago? Enfim, ela queima. Queima e se dissolve em lágrimas ainda mais ridículas do que o amontoado de “blás” anteriores.


“Porque eu sou assim? Porque disse isso? Alguém me amarre e me tranque num hospício, sou louca e problemática e provavelmente mereço segundos lentos de tormenta e solidão que durem para sempre”.


(OBS: Não riam. Se essa voz patética gritasse na sua cabeça, saberia do que estou falando. (e quando digo “não riam”, desculpe, mas não pense que falo com você, quem quer que seja, “leitor”. São outras múltiplas vozes, internas e ainda mais irritantes que a controladora e melodramática culpa)).


Pronto. Ai está o “timing”. No meio das lágrimas e da culpa, o “timing” dele diz algo parecido com: “sou um bloco de gelo, estou de saco cheio de sua baboseira de menina mimada, e agora, vê se dá um tempo”. Time.


Foi assim que nos perdermos. Entre “blá-blás” e blocos de gelo.


Foto: http://o-blog-verde.blogs.sapo.pt/tag/mar

Texto do acervo pessoal, não atual.

Dualidade - Parte II



Ele

Um raio.
Decidiu num raio.
Após outras noites, também anoiteceu
Estabeleceu suas metas num traçado preciso
sem margens recortadas
sem páginas em branco
de caneta preta, ferro, fogo, sem borracha
traçou seus passos na maior escala
nesse mapa que guardou no bolso.

Já bolado e prático o esquema
saiu sozinho pelo lado da cama
despediu-se com um beijo qualquer
e foi sem deixar notícia
sem prévia, e sem aviso.

Quando já tinha dado como certo seu caminho
foi bem no meio do mapa,
uma curva.
Esgueirava esse rio, enchente de lágrimas
sufocando seus planos,
esgotando toda e qualquer paciência.

Escorregou na culpa,
entre cartões e presentes
entre trezentas e repetitivas ligações
era ela e um coração derramado
com olhinhos pequenos de esperança

A segurou nos braços, enfim,
e pensou mesmo em perder seu mapa
em mudar seu rumo,
selar novo beijo,
escrever outra estória.

Pobres e pequenos pensamentos
se desfizeram em marca antiga
de vozes e fantasmas que carregava
de memórias e gestos
somados a intensa complexidade
de todo mal entendido que era ela.

Pelas frestas, escorreram seus planos
esperanças, desejos,
pelas frestas de uma porta trancada
ela e seus choques se dissolviam.

E do outro lado,
olhos castanhos miravam na fechadura.
Ela.
Viu por fim sua dor, seus medos,
sua raiva, angústia tanta,
viu restos de sonho, adormecidos,
viu tantas outras portas fechadas e cofres lacrados com cadeados
Ela viu de um tudo, mas procurava, em vão.
Não havia.
O amor.


Foto: http://dualidadeondulatoriacorpuscular.blogspot.com/2008_10_01_archive.html

Dualidade - Parte I



Ela

Ela caminhava triste, pequenas curvas na testa.
Nuvem cinza pesando os ombros.
Assim, clichê,
ele veio com o sol e a fez rir.
Tornou-se sua luzinha favorita, tilintando,
da qual não conseguia, sem porquê, se afastar.
E ela apegou-se tanto e rápido, que mesmo sozinha,
já contava das estrelas no céu,
esqueceu da nuvem, da tristeza.

Selaram seus sonhos num beijo,
selaram seus beijos na chuva e no sol,
numa praia deserta, no mergulho mais fundo, no mar.

Ela caminhava e não ia só.
Em suas mãos, outras mãos
em outras mãos, esperança.
Seguiam juntos, num balanço novo
na sintonia única dos olhos que brilham
- juntos.

Até que assim, sem saber como ou porquê,
ela correu. (ops, outra vez...)
Correu e perdeu-se
entre malas e salas,
entre viagem, bagagens,
perdeu-se entre férias, diárias
ela perdeu-se em suas próprias (e assassinas) rimas.

Pois foi neste outro dia, acordou sem ele.
Seu pé procurou em vão
pelos lençóis
e a garganta fechou, sem voz.
Perguntou.
E veio a resposta, trovoada no centro da manhã.
Enquanto as palavras lhe faltaram,
percebia palavras virarem lágrimas
lágrimas excessivas, exaustivas, derramando
que seguiam nesse rio
navegando longe.

Tentou respirar, por lágrimas de volta em palavras,
por palavras cadenciadas em papel,
tentou segurá-lo um pouco mais,
respirá-lo dentro da sua mais completa falta.
Sentia embolar no nó da dor do amor que vai.

Foi quando suspirou,
e ainda triste o viu voltar
sem flores, calado
sentou do seu lado
e concordou.

Ela pôs vestido novo, amarrou o cabelo
perfume de rosa, batom de jasmim
ela o desejou de tanto!
Foi que a ausência dele a perfurou de saudade.
Ela desejou bebê-lo em longos goles
e notou que ele esvaia,
estranha a água que evapora
antes de lhe tocar a garganta.

Rondou o travesseiro por seus cheiros
apertou forte seu corpo deitado,
mas já não havia cheiro,
nem corpo
já não havia “te amos” de manhã
ou recados em canção
já não havia olhos apaixonados
ou saudade apertada
já não a via,
nem havia
amor.

24 de abr. de 2009

"Saudade da bebida que estava bebendo"

Nunca Elisa Lucinda soou tão clara. Vontade de beber de uma só vez toda a garrafa, de ter você engarrafado, devidamente compartimentado, a minha total e absoluta disposição. Hoje, ainda, te odeio mais que ontem. Odeio ainda mais porque o telefone tocou, odeio ainda mais porque atendi, odeio pela saudade de cada detalhe seu que eu não esqueço. Odeio esse vazio que se fez quando você saiu, e odeio um pouco mais por saber que tudo o mais o que te envolve é errado: o certo é o vazio, a saudade, esse incômodo no peito pelo telefone que toca, a minha ansiedade em atender.

Ando agora engasgada por aí. não escuto você, não atendo a mais ninguém. Nada mais me concentra e o ano vai acabando (sim, time to change...) – se não mudo eu, muda ele, sem pena da minha desconcentração (desconexão?).

Nunca nada foi tão incerto. Meus todos outros planos, mal se vêem nos meus olhos. Pelo menos essa noite, só tenho você e sou apenas sua – pelo menos hoje não brigue comigo, não reclame. Hoje você não é mais um. (piada, piadas... eu naufrago com algum senso de humor). Nos meus olhos, apenas você, exatamente porque foi embora.

O melhor é que não perdoou o beijo que você não deu (guardo algum consolo, me parece. Qualquer coisa que alimente essa raiva por querer você). Justamente aquele, naquela horinha, pouco antes... não perdoou. O seu não-beijo foi um tapa, bem no meio da minha testa, um outdoor bem grande, um discurso de megafone – “não sou seu!”. Outra vez, pensei em te matar.

Engraçado como paixão e morte se combinam. É tudo um não saber, misto de vontades que não distingo: é querer beijar e/ou enforcar, enforcar e/ou beijar com todas as santas forças (diabólicas?) desses meus braçinhos, não sei se derreto ou me estrangulo também. Tenho essa irritação patológica. Deveria ser objeto de estudo, estou certa de que não sou a única.


Obs - postagem de texto do arquivo pessoal.

10 de mar. de 2009

"E você, será que canta calada aquele frevo axé?..."


E na manhã seguinte, vitória decretada, com um simples telefone tocando às oito da manhã... Salvem-se todos, monstrinhos e pesadelos, foi um príncipe, lindo e imperfeito, imperfeito e lindo, que veio em meu resgate. Não, não acho que corria perigo. Talvez, sozinha, pudesse ganhar bem esta guerra...

Mas quem se cansa de príncipes e resgates, que se cansa de demonstrações espontâneas de carinho? Quem vai reclamar de um pouco de atenção? (Não eu, que saiba... rs).

Só posso jurar que foi uma bela vitória, Palcar de 2 x 0, contra meus fantasmas, e que ambos os gols foram tudo de bom.

Exatamente como você na minha vida. A diferença é que eles foram (pelo menos agora, rs).
Você está.

"Pra mudar minha vida"

E ainda tenho tanto pra conhecer da sua alma. E você ainda tem tanto pra conhecer da minha. E eu não consigo tirar dos lábios o sorriso que você deixou quando saiu. Lembro e relembro os detalhes das nossas conversas ontem, como você foi se revelando, cada palavra, cada olhar, você, lindo, tão perto...

Lembrei de cada estória minha, de cada dor pelos relacionamentos que se foram e pelas coisas que jamais vou poder voltar atrás e reverter, por cada erro, cada angústia, toda intensidade, as entregas, as perdas. Tudo vem como um caminho trilhado até você, tudo vem como passos marcados (algumas curvas, muitos tropeços), todos para que estivéssemos agora, no exato agora, eu, você, e a bagagem que pretendo mandar embora (ficar leve, sem peso, sem passado...). Ficar mesmo só com passos, as estórias ensinadas por cada cicatriz, e com o coração em paz, o que é tudo que quero deixar perto de você e te pedir para cuidar, sempre.

Foi seu, sim, o sorriso que vi brilhando quando me afastei desse mundo de gente raivosa, foi você, meu pôr-do-sol... (será que ainda vai lembrar da tradução da música? rs.) Ou digo apenas que o sol não se pôs, nem nasceu pra mim nesta noite. Meu sol, a noite, o dia, tudo foi só você, e você foi, constante.

“... pra recomeçar...”

Ps – “E o povo tá que fala...” kkkkk.... (não resisiti!)

9 de mar. de 2009

"Além da brincadeira..."


Era um cenário épico.

Medieval.

Entraram juntos, fugindo da festa, do barulho, da música estridente que tocava lá fora.

Ela princesa, (ou cortesã - já não se sabe bem, pois que gostava de passear entre suas próprias facetas, entre as fases da lua. Talvez princesa. Talvez não só...) e seu príncipe - mascarados, desconhecidos.

Irresistível se encontrarem exatamente ali. Escondidos, pareciam seguros, apesar dos barulhos do outro lado da porta, apesar deste certo receio dela de que seriam, a qualquer momento, descobertos, de que o relógio bateria meia-noite (ou meio-dia), penderiam-se as máscaras, não teriam mais fantasias...

Agora, já era bem tarde. Ambos haviam bebido da mesma taça, e, embriagados de carnaval, caiam cansados, lado a lado, tombando num sono profundo e com sonhos.

Ele a abraçou apertado. Ela respirou profundo. Dormiam o sono dos anjos, em outro tempo, outro espaço, onde ela sentiu-se segura e querida, onde ele se sentiu a salvo, cansado das guerras e batalhas, onde ele pôde parar de se preocupar e, simplesmente, dormir.

Durante a noite, em alguns momentos, ela abriu os olhos encantados e pensou no dia seguinte. Como seria, como ele seria, sem máscaras, sem fantasia, como seria seu príncipe encantado quando os relógios acelerassem, quando o tempo fosse aquele mesmo outra vez, novo, velho, quando acabasse o mistério e a névoa que envolve todos os amores que mal se conhecem, quando o relógio batesse a hora marcada e terminasse o feitiço?

Será que ainda gostariam um do outro? Será que aquele lugar, aquele abraço apertado no meio da noite ainda seria o lugar onde ambos desejariam, mais do que em qualquer outro, estar?

Ela não teria as respostas. Não ainda. Sabia só que aquele era seu lugar agora. Sabia que acordariam, que o carnaval seguiria, que as músicas tocariam e multidões os guiariam para outros e outros lugares. Sim, se afastariam.

A manhã seguinte, assim como o dia seguinte - incógnitas. Todo o futuro – incerto, como todo e qualquer futuro sabia ser, aliás.

E, naquele segundo, ela amou a incerteza, tanto quanto amou aquele abraço, tanto quanto amou seu sono longo e profundo... não havia expectativa, não havia promessa, não havia garantia.

Havia apenas isto: uma constatação: depois de profundas noites de tristeza, imersa em si mesma, ela estava ali, ao seu lado. E ela sorria.

Ele era presente. E presenteavam-se com suas presenças e com a paz de seu sono.


Ps - " de pierrot e colombina..." rs.
" E quando deitamos e relaxamos nosso corpo, podemos sentir intensamente. Físicos e teóricos a chamam de força da gravidade. Nós a sentimos como colo. É o colo da mãe terra, no mais profundo acolhimento."*


E tantas vezes que precisei de colo sem notar o quanto poderia ser simples...


* Um dos ensinamentos nas meditações da Hatha Yoga.

8 de mar. de 2009

Sempre dói, mas sempre passa.

E ela sabia. Sabia e lembrava todas as vezes que doeu, sem que isso significasse absolutamente nada agora. Da última vez foi pior. Foi? Isso já não sabia... De certa forma lembava o estrago - noites mal dormidas, seguidas de dias cansados, horas lentas demais, ora longas demais, nada de fome, vontade de comer o mundo. Lágrimas. Muitas lágrimas. Mas não conseguia comparar nada com o aperto que sentia agora. Hoje, seria a pior dor de sempre.

Viu como passa? Você nem lembra direito a dor do estrago...

Pensar, porém, não estava ajudando nada. Deveria, ok, mas não estava.

E daí se ela estava perdida, e daí se queria tentar uma nova profissão a cada segundo, e daí se nos minutos seguintes continuava na mesma profissão, imaginando como seria se tivesse mudado no segundo anterior? As respostas não estavam nele, isso decerto.
Aliás, estas respostas aparamentemente não estavam em lugar algum. Exatamente como ela, vagando neste vácuo intertemporal que inventou para passar a chuva.

Você está mesmo aqui, lindinha? Porque parece estar longe... em algum outro lugar.
Mais uma vez: exatamente.

Perguntou-se, por fim: se as respostas estão em lugar algum, e eu estou em lugar algum, elas deveria estar bem por aqui....
A gente podia se "bater" por ai. Hum?

Nada como mais um dia sem hipocrisias.

7 de mar. de 2009

Vamos celebrar a estupidez humana?



Gente,
Com tem maldade nesse mundo...
Tá, vou contar a estória e ai vocês chegam a suas próprias conclusões.

Era uma vez um menino e uma menina que namoravam há muito, muito tempo.

Um dia os dois se chatearam e tiveram uma briga feia. A menina estava muito triste e confessou sobre o ocorrido com a colega ao lado, numa sala com outros coleguinhas de trabalho.

Ocorre que, Sras. e Srs., nesta sala estava um outro menino, a quem chamaremos de elemento “X”. Elemento “X” tem papel fundamental na estória, mas ainda não aparecerá nesta cena.

O menino também estava triste, até que recebeu um email da menina. Mal teve tempo de se alegrar com o nome dela na caixa de entrada, percebeu que abriu mesmo a caixa de pandora. Os dizeres eram ofensivos e grosseiros, ela dizia detestá-lo, não entender como perdeu tanto tempo com ele, que ele não a procurasse mais, que isso e aquilo e acolá. Foram diversos e-mails, todos com o mesmo conteúdo nefasto.

Frustrado, ele desapareceu no carnaval (meio inutilmente, já que esta criatura pegou uma gripe no primeiro dia e ficou de molho até os últimos...).

Ela também devia estar frustrada, já que era tempo de eventos festivos, e ele sumiu completamente, o que era um péssimo sinal.

Ok. Pausa. Você deve se perguntar por que ela estava frustrada, já que ela mesma enviou emails ofensivos... Pois bem, chamemos agora o Elemento “X”.

Num mundo paralelo, o das pessoas malvadas, Elemento “X” ouviu a conversa de sua coleguinha, objeto de seu afeto, com a outra coleguinha da mesa ao lado. Neste momento, sua mente maquiavélica bolou um plano.

Destaquemos que Elemento “X” convivia com o casal de protagonistas. Elemento “X” saía com o casal. Ele e a namorada dele. Elemento “X” era totalmente, aparentemente, normal.

Então... Elemento “X” criou um email, o qual, caros senhores, preciso demonstrar empiricamente, porque o sujeito alterou um PONTO no email já existente da sua colega de trabalho. Exemplo:

Email real: margarida33@blablabla.com

Email fake: margarida.33@blablabla.com

Isso é sério. Seríssimo...

Vamos inverter o ditado: o que os olhos não vêem, o coração SENTE... E os olhos dele nem repararam um ponto a mais.

Pois bem. O tempo se passou e história, graças à Jah, tem final feliz.

Um belo dia, cansado de ouvir tantas ofensas, ele a procurou no MSN, e questionou os emails. Ela levou um mega susto, jurou inocência e correu com ele atrás das evidências desse complô (ESSE SIM - um complô!).

Descoberto o email falso, eles cataram um desses mega entendedores influentes de informática e conseguiram localizar o IP e endereço do dito cujo, quem, em uma ligação “grampeada” e após muito grito da vítima, confessou seu crime.

Isso é sério. Seríssimo...
Aconteceu ali, do meu ladinho.

Agora eu pergunto, Sras e Srs, que mundo louco é esse?????

São Jorge me proteja, os cães estão soltos e agora são, inclusive, tecnológicos...

Ps - espero que ningupem se ofenda com a minha narração. Os fatos aqui descritos são ficção. Qualquer semelhança com a realidade, é mera coinciência. Igualzinho na novela.

15 de fev. de 2009

Aos meus lindos anjos.



Neste momento, recolho o resto das minhas energias para emergir deste longo mergulho em que me encontro. Apesar de mais simples do que me pareceu a princípio, já que meu corpo flutuou e subiu, naturalmente, com a ajuda da própria água, e que a superfície se apresentou leve e agradável (considerando meu mais recente conhecimento de sua necessidade para tomar fôlego e ir a mergulhos mais longos, da sua importância para evitar minha estagnação nas profundezas de mim mesma e os conseqüentes transtornos que isso pode causar), ainda assim, foi com certa dificuldade que emergi, nadei até as bordas e finquei com vontade meus pés na terra fofa (mesma terra que sou eu e vocês, meu apoio, meu chão).

Vim até aqui porque este é o lugar exato que preciso estar para dizer o que preciso. E o que preciso dizer é muito simples. OBRIGADA.

Nesta minha vida cheia de anjos, anjos que bem sabem que são anjos, anjos que jamais se deram e talvez nem se dêem conta disso, anjos que me iluminam, me guardam, me protegem, visíveis, invisíveis, presentes, onipresentes, anjos que cobrem a minha vida com amor.

Agradeço a vocês, meus lindos anjos. Agradeço por suas palavras, pela doçura de suas almas, pela sinceridade em seus olhos. Agradeço por cada gesto. Pelo abraço apertado enquanto o soluço não parava, pelo carinho em meus cabelos até que pegar no sono, pelo colo, pelos ouvidos lotados com meus mais tristes lamentos, com minhas mais estranhas reclamações. Agradeço pela pureza de suas almas que não me julgaram, apedrejaram, ou se calaram quando eu errei – e tanto que errei! – mas que me perdoam, e ajudam ainda para que eu perdoe a mim mesma nesse caminho que em algum momento distante decidi percorrer.

Meus lindos anjos!

Agradeço pela essência deixada “com amor” em um envelope, agradeço pelo aperto forte nos braços, pela sacudida que me dizia “Acorde”, pelo barulho que veio de sua voz, mas sangrava de meu coração, ainda tão pequeno no uso de seu próprio vocabulário.

Agradeço o brilho intenso em seus olhos, agradeço por ter sido do seu lado que me dei conta de tantos dos meus reais desejos e pela sua força e apoio para que eles se materializem.

Agradeço pelo banho de mar na praia, por ter segurado minha mão. Agradeço por ter me olhado nos olhos sem medo de mim, mesmo quando estive assustada e enfraquecida. Agradeço o seu próprio agradecimento por ter feito algo especial com seu dia. Agradeço por você ter sido sincero suficiente para transparecer sua felicidade diante da minha mera companhia e enriquecer a minha noite.

Agradeço por abrir as portas pra mim, me deixar dormir em sua cama quando me vi sem pouso, por me oferecer seu melhor travesseiro, por me cobrir e encostar a porta, zelando meus sonhos.

Agradeço pelo pronto atendimento, por você me aguardar em seu momento de descanso e me receber, mesmo assim, com naturalidade, por você dedicar o máximo de cada aprendizado seu ao meu próprio aprendizado, por procurar na sua alma as palavras e perguntas certas, por calar o que ainda não estou preparada para ouvir e ter a paciência de aguardar meu crescimento. Agradeço por me mostrar que o caminho é longo e que é preciso paciência, calma e compaixão comigo mesma nesse trajeto. Agradeço pela lembrança que construo minha base lentamente, mas com solidez. E que ela é, sim, de brilho e luz.

Agradeço por estar do meu lado em silêncio diante do meu próprio silêncio. Por conseguir não estar ao meu lado, mesmo tão preocupada e me amando tanto, e respeitar minha fuga, distância e ausência, mesmo sofrendo por não saber como aliviar minha dor. (obrigada ao mais lindo anjo, que me carregou em seu ventre e me ama a ponto de dar a vida se fosse preciso. Por ela não precisar sequer dizer isso. A ela meu amor, agradecimento e pedido de perdão).

Agradeço pelo seu olhar de carinho e entendimento, mesmo quando não ouviu sequer uma palavra minha. Por você parar alguns segundos de seu dia e mandar uma mensagem de apoio e amor.

Agradeço por você mal me conhecer, mas olhar meus olhos tristes sem pena, e, não por caridade, mas por identificar-se comigo, me dizer “vá pra casa, eu cuido das coisas aqui por você.” Agradeço você ter me dado seu telefone para qualquer emergência.

Agradeço você ter parado seu dia para almoçar comigo, para me dizer suas verdades como uma ponte para que eu encontre as minhas. Agradeço por você rir comigo e me acolher, por ter retirado minhas sandálias e me aconchegado quando eu não já nem sabia mais onde estava ou aonde ir.

Agradeço por você ter passado por mim com aquela fantasia engraçada, ter aberto um sorriso engraçado, ter me feito gargalhar, sem nem me conhecer. Foram tantos (e um só...) que vieram e pintaram como anjos meu céu, sem se dar conta do arco-íris que se formou no meu dia nublado.

Agradeço por você ter me convidado a sua casa, ou a seu caminho, ou a seu momento especial. Agradeço pela chance de ir até você, ou de ter sido conduzida até este lugar onde pude te ouvir contar estórias de outros tempos e outros heróis, tão destemidos e medrosos quanto eu. Agradeço por ter me aproximado de Deus.

Ah.... Paro absolutamente todo o resto no meu mundo agora e profundamente agradeço muito a Deus! (que, também é você, e também sou eu) por ter minha vida repleta de vocês, anjos.

Agradeço pelo amor desinteressado de cada um desses anjos, que antes de tudo são anjos por amarem exatamente assim, desinteressadamente, sem cobranças, sem trocas (o mais lindo amor que tanto me confundiu em sua procura, mas que se faz cada dia mais sentido para e por mim).

Todavia, acima de tudo, agradeço por este grande espelho que todos vocês, belos anjos, dispuseram em minha frente.

Esse espelho que tantas vezes me esquivo de olhar, que me dá tanto medo... Agradeço porque, neste pequeno momento, me dedico a ver minha imagem refletida. Agradeço pela dor de ver meus erros e faltas, pela raiva da armas que seguro e uso sem ter ainda conseguido abandonar, pela minha agressividade e mágoas, pela minha facilidade irrazoável de não dar limites ao mundo, mas dificuldade em perdoar a mim mesma, pela minha própria auto-punição, descaso, humilhação. Por tantas vezes questionar minhas conquistas e merecimentos.

Não só, respiro fundo, aqui desta terra (que sou eu e é você), para de outra forma agradecer a presença deste espelho em minha frente, posto especialmente por meus anjos e mais delicadamente por mim mesma, e da imagem a qual vocês não me deixam driblar: essa linda mulher, tão forte, intensa e dolorida, que quer correr tanto e tanto cai de seu veloz cavalo, mas não desiste, que se procura, que se alimenta e respira cada dia melhor, porque quer viver cada dia melhor, que não tem mais os mesmos medos, que tem tantos novos sonhos, que não mais se apavora com a solidão, que entende precisar de pausas, que pára pra ouvir seu coração e o deixa vir e refletir-se também no seu espelho. Essa mulher que busca entender a si mesma, acolher a si mesma, perdoar a si mesma, unir cada um de seus lados.

Esta mulher que sofre muito com tantas e tantas visões em seu espelho, mas quem aprende, a cada dia, que evitar sua sombra não a fará desaparecer, enquanto iluminá-la e refleti-la poderá transformá-la com a profundidade necessária para vencer a si mesma. Uma mulher que luta contra a própria ansiedade e se esforça a entender que essa mudança é dolorida, e, não surpreendentemente, leva tempo.

Essa mulher que é boa o suficiente para si mesma, mas sabe: ainda tem muito que se amar.

Anjos todos: obrigada por compartilharem meu sonho, minha jornada, humana e verdadeira.

Durmo agora, mais cansada que ontem, ainda ferida pelo ontem, porém com um olhar mais límpido que ontem, cabeça mais erguida, com pés mais seguros, com compaixão e amor-próprio mais intensificados, tudo este tanto mais agora do que foi na noite antes dormida, tudo menos do que me caberá sentir quando o sol de amanhã raiar. Digo, contundo que desde agora, algo é completo, apesar infinito. Carrego comigo muita, muita gratidão no coração.

Porque quando me faltou amor suficiente por mim mesma, não me foi permitido esmorecer, não me foi permitido o longo sono, não me foi permitido. E foi com amor, apesar da franqueza, que me senti erguida novamente.

E quando reclamei da intensidade, e quando resmunguei da dor, quando tive dó e revolta por ser tudo assim, tão forte, tão furacão, quando desejei aquela vida leve e sem tremores, ouvi você dizer que esse foi o jeito que a minha alma encontrou de “ser” nessa vida, foi o caminho que a trouxe seu próprio desenvolvimento. Esse foi o encontro dela, a sua forma de estar, de crescer, sua força, sua estória. E se aprendi algo até aqui é que, por dignidade e merecimento, a minha alma vai falar por mim e ser exatamente aquilo que ela veio para ser.

Começo agora, pelo fato de amar a felicidade na minha vida.
E que permaneçam nela, vocês, meus anjos, tantos puros anjos, que me velam de longe, tantos pura luz, que me acompanham e abraçam, tantos tão humanos, que erram, choram e machucam, mas que me têm com amor e verdade.