28 de abr. de 2006

Numa fração de segundo...

De repente
Saudade incrível
do beijo, do abraço
da noite anterior.
Ligação...
Quase nem penso.
E é saudade.
Impulso incontrolável -
Mensagem:
“te amo!”
Fração de segundo -
Resposta:
“também”.
E entre livros e notas,
cadernos, canetas,
foi meu coração
bantendo sincronizado
com o seu.
Meu sorriso
brilhando
sabendo
seu mesmo sorriso,
mesmo brilho,
mesma saudade.
Fração de segundo
você veio.
E fui você.

Numa mera tarde de quarta-feira...



Um humilde senhor no caixa ao lado, fila no supermercado. Óculos de grau, blusa pra dentro de uma calça surrada (bem passada, entretanto), cinto preto, sapatos velhos. Cabelos devidamente penteados. O senhor entregou um cartão de credito azul. Discussão em voz alta e tumulto entre as atendentes.
– “Fulana, você não viu o aviso! Ele não pode parcelar não!!!!”
E a tal da fulana, para o senhor:
- “Sinto muito, viu moço, o cartão realmente parcela em até 10 vezes, mas o valor mínimo é de R$ 10 reais a compra, olha ali no papel...”. (apontou para uma folha de oficio escrita com letras garrafais, colada na parede, atrás do caixa).

Dei por conta da situação e olhei pro balcão. A compra que tentara fazer era de uma garrafinha de Iogurte de morango, custava R$ 0, 79 (o valor, bem grande, estampado no monitor do computador da cobradora).
Quase deserpero – peguei correndo o iogurte e pedi alarmada pra Caixa passar junto com minhas compras. Cara de má vontade dá atendente, que tinha encerrado a venda.
O senhor olhou pra mim.
- “Não. De jeito nenhum. Obrigado.”
- “Mas, meu senhor, por favor. Eu faço questão. De verdade, por favor”.
- “Não, não”. E correu da loja antes que eu pudesse pensar em algo melhor pra dizer.

Esse foi um dos piores “nãos” que já ouvi na minha vida.
Voltei pra casa chorando. Borrei o rosto com o rímel de R$ 30,00, que foi escorrendo pelo pó de R$ 40,00... às vezes (poucas e tantas vezes), detesto a maquiagem que cobre meu rosto.

12 de abr. de 2006

Porque é única...

"Oportunidade é uma menina com trança na testa". Uma agulha, prestes a cair no palheiro, o segundo seguinte do relógio, o trem das 11 às 10:59... Vai passando sem volta, ou revolta, sem segunda opção.

A oportunidade sussurra e sua voz afiada me amedronta. Jamais grita, a oportunidade... Não me chama pelo nome, não aceita divagações. Mata-me aos poucos e me forço a entender, ameaça constante aos pratos postos da minha balança.

Não sou sua e não é meu. Somos apenas a sombra do que gostaríamos e nos perdemos um do outro quando a noite vem... Se sob o sol sou reflexo de tudo que espera, a noite sou escuridão e me teme, como temo, me perder em você e pela noite, não encontrar caminho, retorno, outra mão.

Já não falamos mais como antes. As palavras não ditas, entretanto, falam comigo sem parar, me cortam o sono, tomam o volante - sem direção meu próprio destino - tudo pelas palavras que não falei ou sentidos não explicados, tudo pela desculpa que não ouvi, tudo pelo desencontro que programamos tão bem.

Sim, porque se nossos encontros foram conturbados, nossos desencontros são exemplares – somos praticamente profissionais em desajustar nossos relógios (maior o desafio, creio eu) a ponto de chegarmos na pior das horas do outro, de estabelecermos as situações mais desaconselháveis, desamarrando todos os laços, como se fossemos um teste, prova de fogo ou de amor um do outro.

Eu te amo
Não digo muito
Quase disse nada
Mas você já sabe
Ou sabia

Porque te amo
Quando te vejo
E meus olhos lêem você
Brilhando mais forte
Impossível esconder

As palavras travam
E quase murmuro,
Mas você entende
Porque o som que escuta
É o do meu coração

É que te amo
Sem pensar muito
Pensando quase nada
Quando passa cada segundo
E já não passa.

Te amo
Além do quando
Além do quase
Além do nada
Eu amo, encantada.
(parada, calada, malvada, enfeitiçada).

Entendimentos e Desentendimentos.


Sermão do mandato
Padre Antônio Vieira

Pinta-se o amor sempre menino, porque ainda que passe dos sete anos, como o de Jacó, nunca chega à idade de uso de razão. Usar de razão e amar são duas coisas que não se ajuntam. A alma de um menino, que vem a ser? Uma vontade com afetos, e um entendimento sem uso. Tal é o amor vulgar. Tudo conquista o amor quando conquista uma alma; porém o primeiro rendido é o entendimento. Ninguém teve a vontade febriciante, que não tivesse o entendimento frenético. O amor deixará de variar, se for firme, mas não deixará de tresvariar, se é amor. Nunca o fogo abrasou a vontade, que o fumo não cegasse o entendimento. Nunca houve enfermidade no coração, que não houvesse fraqueza no juízo. Por isso, os mesmos pintores do amor lhe vendaram os olhos. E como o primeiro efeito, ou a última disposição do amor é cegar o entendimento, daqui vem que isto que vulgarmente se chama amor, tem mais partes de ignorância; e quantas partes tem de ignorância tantas lhe faltam de amor. Quem ama, porque conhece, é amante; quem ama, porque ignora, é néscio. Assim como a ignorância na ofensa diminui o delito, assim no amor diminui o merecimento. Quem ignorando ofendeu, em rigor não é delinqüente; quem ignorando amou, em rigor, não é amante.

6 de abr. de 2006

"Saber amar... saber deixar alguém te amar..."



Bem ou Mal
Vânia Abreu

Pode ser que seja normal
Acordar querendo te ver
Pode ser que seja fatal
Para mim, ficar sem você

Pode ser que o amor seja assim
E o remédio seja esperar
Pode ser que eu ria de mim
Quando tudo isso acabar



Antes que eu sinta mais saudades de você
Quem sabe a gente não se encontra pela rua
Ainda é cedo e tudo pode acontecer
A chance é toda sua


Pode ser seu jeito de olhar
Um sorriso basta pra mim
Faz o mundo inteiro parar
Faz o coração dizer sim


Pode ser que eu queira demais
E você nem queira saber
Pode ser que seja fugaz
Mas eu quero estar com você

Eu visto a roupa mais bonita pra te ver
Quem sabe a gente não se encontra pela rua
A noite cai e tudo pode acontecer
Debaixo dessa lua

Bem ou mal
Tudo se mistura, tudo é natural
Prazer e tortura juntos, bem ou mal
Se você quer calma, eu quero um temporal
De amor e prazer

5 de abr. de 2006



Assumo TOTALMENTE - com tranquilidade mesmo - a minha mais branda, porém real, incompetência para me direcionar neste mundo de marcianos...

"Mas o vento mudou a direção..."

E olha, não me pede pra achar os caminhos...!
Sou venusiana,
exata e diretamente de Vênus
onde as ruas são marcadas
por setas coloridas,
tijolos dourados,
ou migalhas de pão.

Não, não me peça
pra entrar na rua certa,
lembrar qual
dentre as trinta e cinco opções
me levam pra você,
sua casa,
seu coração...

Meu caminho,
alinear,
faz voltas e revoltas,
gira em torno de respostas,
não faria qualquer sentido pra você
Isso eu bem sei...

Mas não me peça pra entender
ou decorar
se é direita ou esquerda
a mão, contramão
Se posso, ou não
seguir por aqui

Não me pede pra acelerar
quando não conheço de cada adversidade
desse caminho pra você
Não, não vou arriscar
rodopiar descontrolada e no final
Tonta.

Agora, se quiser,
Te dou as chave do carro
Deixo que guie,
Controle a mudança de cada marcha
E te acompanho
Com palavras
Olhares

Vou saboreando
cada segundo
das suas mãos
no voltante
ou de leve
em minha perna

Dirige sim,
suas estradas e esquinas...
Leva o meu carro
e me dá o prazer
de observar seu caminho.

Dirige sempre...
Eu confio
Obedeço
Estremeço
E sorriu.