9 de abr. de 2012






Tão sua,
encontrei um verso assim
tão simples
sem preparo
sem reparo
sem surpresa

Um verso só
pra te contar
que desde o dia que você
entrou na minha vida
a minha escova de dentes 
nunca se sentiu tão acompanhada.

7 de abr. de 2012

"Eu tranco a porta pra todos os gritos. E o silêncio também está lá fora..."



Sem explicação, procurava por chaves a todo momento.

Como uma espécie de toque, hábito antigo, veneno anti-monotonia. Uma dessas compulsões incontroláveis e inexplicáveis: portas fechadas a instigam, inquietam, atraem...

Admirava o valor da reserva, o cuidado, as precauções com o que se guarda. Porque se guarda? Pergunta.

Contudo, não a levem a mal: sua curiosidade ultrapassa, em muito, portas alheias. Estendia-se, justamente, nas portas auto-trancadas - naquelas que escondia de si mesma, entre cadeados, baús, fechaduras quase intransponíveis, dos quais evitava lembrar ou perceber...

É a curiosidade pela própria sombra, pela escuridão dos passos seguidos, quando o andar parece desmotivado ou esmo; pelas palavras não proferidas, ou pelas gastas de tanto usar, mas que não saberia de onde vieram; pelos gestos que negava externar ou pelo que quer que conduzia seus gestos mais cotidianos e banais.

Todos trazem suas portas lacradas, suas caixinhas de reserva: temidas, ignoradas, disfarçadas. E tantas vezes repetia: não há mais nada o que procurar.

No entanto, no mais inusitado dos momento, recorreria as suas portas secretas, acessaria o seu escudo e suas armas, lutaria como uma total desconhecida, com forças nunca antes vistas, com vigor nunca antes sentido, capaz do que nunca pensou ser capaz.

E no entanto, sempre que se sentisse derrotada, recorreria as suas portas secretas, acessaria um arsenal de ataduras, ungüentos, colírios, antídotos - técnicas milenares para recuperá-la e trazê-la de volta do mais profundo dos profundos.   

Naquela tarde, perdeu a conta do quanto de si escoou por esquecer suas portas entreabertas.  Admirava as portas bem trancadas, anti-pressão, anti-vácuo, anti-bisbilhotagens. Portas hermeticamente fechadas, como se diz por aí.

Sim, estava sempre a procurar por chaves e quase nunca trancava suas portas. Exceto aquelas que trancava para si mesma.  


Crédito da foto: Henrique Nardi (http://abaribo.blogspot.com.br/2009/06/paula-orsi-cruz-porta-entreaberta.html)