27 de mai. de 2009

Slowly.

Ela bebia lentamente, goles lentos, vagarosamente saboreados. Não fazia mais idéia do horário, sentia o princípio agradável da embriaguez acontecendo, tinha os lábios dormentes e o corpo relaxado. Até esboçava um sorriso e ao dar-se conta disso riu alto, gargalhou sozinha com os olhos centrados apenas no copo. Apreciava o tom interessante de sua bebida.

Ele aproximou-se e perguntou seu nome. Ela balbuciou qualquer coisa, ele já estava sentando ao seu lado, ela não queria companhia, mas sentia-se cansada demais para discutir, ele pediu mais duas doses, “e esta será a última” – ela pensou.

Ele falava demais, mas não a incomodava. Um tom de voz deliciosamente másculo, palavras que saiam doces no meio de um expandido sorriso. Ele tocou seus cabelos, e seus dedos passeavam sem propósito, deslizavam em espiral pelas pontas, enrolando-as entre os dedos, tocando-lhe acidentalmente o pescoço - o que a fazia arrepiar, e era, por vezes, difícil disfarçar. Não sabia como ele tinha chegado até seus cabelos. Mas não reagia.

Sentia sede pelo toque dele, sentia sede pelos dedos entrelaçados em seu cabelo, pela boca que falava sem parar. Ela queria que parasse, em um beijo em seu pescoço tão lento e longo quanto seus goles aquela noite. Fechou os olhos por um segundo e foi como se ele lesse sua mente, pois em seguida passava as mãos em sua nuca e a segurava, carinhoso e firme. Apoiou a outra mão em sua coxa, pernas dela cruzadas, ele não parecia ligar, nada era incomum ou desconcertante, era ainda o segundo drink, ele agia como se a conhecesse há anos, tocando-lhe com naturalidade e despretensiosamente.

Ela já respirava seu hálito, doce e seco como a bebida que escolheram. Ele passou os dedos em seus lábios, até que ela os entreabriu, respirando pouco mais fundo.

Foi quando ele a beijou pela primeira e última vez. Beijo quente e demorado, ele a sentiu entregar-se em êxtase e imaginou como a noite seguiria bem... Sentia desejo em cada canto daquele beijo, ela não era uma mulher qualquer.

Ela o beijou como se nada mais houvesse. Nem bar, garçons, nem noite, nem tempos. Beijou inteira, intensa e suave. Eles eram lentamente quentes, o que povoava os pensamentos dele com as mais “insólitas idéias”.

Ela descolou sua boca e pela primeira vez na noite, sorriu para ele. Olhou-o com o canto dos olhos, dos pés a cabeça. Era sua forma de agradecer. Puxou a bolsa, levantou-se. Levou os lábios e uma das mãos ao rosto dele, num suave beijo de despedida. Beijou sua face, do lado esquerdo.

Ele segurou sem braço, em protesto. O que ela estava fazendo? Aonde ia?

Ela não disse nada, apenas soltou-se com graciosidade, devolvendo a mão dele até a mesa. Deixou algum dinheiro para garantir sua parte da conta. E se foi.

Essa era ela.
E aquilo era tudo que desejava oferecer.

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