15 de fev. de 2009

Aos meus lindos anjos.



Neste momento, recolho o resto das minhas energias para emergir deste longo mergulho em que me encontro. Apesar de mais simples do que me pareceu a princípio, já que meu corpo flutuou e subiu, naturalmente, com a ajuda da própria água, e que a superfície se apresentou leve e agradável (considerando meu mais recente conhecimento de sua necessidade para tomar fôlego e ir a mergulhos mais longos, da sua importância para evitar minha estagnação nas profundezas de mim mesma e os conseqüentes transtornos que isso pode causar), ainda assim, foi com certa dificuldade que emergi, nadei até as bordas e finquei com vontade meus pés na terra fofa (mesma terra que sou eu e vocês, meu apoio, meu chão).

Vim até aqui porque este é o lugar exato que preciso estar para dizer o que preciso. E o que preciso dizer é muito simples. OBRIGADA.

Nesta minha vida cheia de anjos, anjos que bem sabem que são anjos, anjos que jamais se deram e talvez nem se dêem conta disso, anjos que me iluminam, me guardam, me protegem, visíveis, invisíveis, presentes, onipresentes, anjos que cobrem a minha vida com amor.

Agradeço a vocês, meus lindos anjos. Agradeço por suas palavras, pela doçura de suas almas, pela sinceridade em seus olhos. Agradeço por cada gesto. Pelo abraço apertado enquanto o soluço não parava, pelo carinho em meus cabelos até que pegar no sono, pelo colo, pelos ouvidos lotados com meus mais tristes lamentos, com minhas mais estranhas reclamações. Agradeço pela pureza de suas almas que não me julgaram, apedrejaram, ou se calaram quando eu errei – e tanto que errei! – mas que me perdoam, e ajudam ainda para que eu perdoe a mim mesma nesse caminho que em algum momento distante decidi percorrer.

Meus lindos anjos!

Agradeço pela essência deixada “com amor” em um envelope, agradeço pelo aperto forte nos braços, pela sacudida que me dizia “Acorde”, pelo barulho que veio de sua voz, mas sangrava de meu coração, ainda tão pequeno no uso de seu próprio vocabulário.

Agradeço o brilho intenso em seus olhos, agradeço por ter sido do seu lado que me dei conta de tantos dos meus reais desejos e pela sua força e apoio para que eles se materializem.

Agradeço pelo banho de mar na praia, por ter segurado minha mão. Agradeço por ter me olhado nos olhos sem medo de mim, mesmo quando estive assustada e enfraquecida. Agradeço o seu próprio agradecimento por ter feito algo especial com seu dia. Agradeço por você ter sido sincero suficiente para transparecer sua felicidade diante da minha mera companhia e enriquecer a minha noite.

Agradeço por abrir as portas pra mim, me deixar dormir em sua cama quando me vi sem pouso, por me oferecer seu melhor travesseiro, por me cobrir e encostar a porta, zelando meus sonhos.

Agradeço pelo pronto atendimento, por você me aguardar em seu momento de descanso e me receber, mesmo assim, com naturalidade, por você dedicar o máximo de cada aprendizado seu ao meu próprio aprendizado, por procurar na sua alma as palavras e perguntas certas, por calar o que ainda não estou preparada para ouvir e ter a paciência de aguardar meu crescimento. Agradeço por me mostrar que o caminho é longo e que é preciso paciência, calma e compaixão comigo mesma nesse trajeto. Agradeço pela lembrança que construo minha base lentamente, mas com solidez. E que ela é, sim, de brilho e luz.

Agradeço por estar do meu lado em silêncio diante do meu próprio silêncio. Por conseguir não estar ao meu lado, mesmo tão preocupada e me amando tanto, e respeitar minha fuga, distância e ausência, mesmo sofrendo por não saber como aliviar minha dor. (obrigada ao mais lindo anjo, que me carregou em seu ventre e me ama a ponto de dar a vida se fosse preciso. Por ela não precisar sequer dizer isso. A ela meu amor, agradecimento e pedido de perdão).

Agradeço pelo seu olhar de carinho e entendimento, mesmo quando não ouviu sequer uma palavra minha. Por você parar alguns segundos de seu dia e mandar uma mensagem de apoio e amor.

Agradeço por você mal me conhecer, mas olhar meus olhos tristes sem pena, e, não por caridade, mas por identificar-se comigo, me dizer “vá pra casa, eu cuido das coisas aqui por você.” Agradeço você ter me dado seu telefone para qualquer emergência.

Agradeço você ter parado seu dia para almoçar comigo, para me dizer suas verdades como uma ponte para que eu encontre as minhas. Agradeço por você rir comigo e me acolher, por ter retirado minhas sandálias e me aconchegado quando eu não já nem sabia mais onde estava ou aonde ir.

Agradeço por você ter passado por mim com aquela fantasia engraçada, ter aberto um sorriso engraçado, ter me feito gargalhar, sem nem me conhecer. Foram tantos (e um só...) que vieram e pintaram como anjos meu céu, sem se dar conta do arco-íris que se formou no meu dia nublado.

Agradeço por você ter me convidado a sua casa, ou a seu caminho, ou a seu momento especial. Agradeço pela chance de ir até você, ou de ter sido conduzida até este lugar onde pude te ouvir contar estórias de outros tempos e outros heróis, tão destemidos e medrosos quanto eu. Agradeço por ter me aproximado de Deus.

Ah.... Paro absolutamente todo o resto no meu mundo agora e profundamente agradeço muito a Deus! (que, também é você, e também sou eu) por ter minha vida repleta de vocês, anjos.

Agradeço pelo amor desinteressado de cada um desses anjos, que antes de tudo são anjos por amarem exatamente assim, desinteressadamente, sem cobranças, sem trocas (o mais lindo amor que tanto me confundiu em sua procura, mas que se faz cada dia mais sentido para e por mim).

Todavia, acima de tudo, agradeço por este grande espelho que todos vocês, belos anjos, dispuseram em minha frente.

Esse espelho que tantas vezes me esquivo de olhar, que me dá tanto medo... Agradeço porque, neste pequeno momento, me dedico a ver minha imagem refletida. Agradeço pela dor de ver meus erros e faltas, pela raiva da armas que seguro e uso sem ter ainda conseguido abandonar, pela minha agressividade e mágoas, pela minha facilidade irrazoável de não dar limites ao mundo, mas dificuldade em perdoar a mim mesma, pela minha própria auto-punição, descaso, humilhação. Por tantas vezes questionar minhas conquistas e merecimentos.

Não só, respiro fundo, aqui desta terra (que sou eu e é você), para de outra forma agradecer a presença deste espelho em minha frente, posto especialmente por meus anjos e mais delicadamente por mim mesma, e da imagem a qual vocês não me deixam driblar: essa linda mulher, tão forte, intensa e dolorida, que quer correr tanto e tanto cai de seu veloz cavalo, mas não desiste, que se procura, que se alimenta e respira cada dia melhor, porque quer viver cada dia melhor, que não tem mais os mesmos medos, que tem tantos novos sonhos, que não mais se apavora com a solidão, que entende precisar de pausas, que pára pra ouvir seu coração e o deixa vir e refletir-se também no seu espelho. Essa mulher que busca entender a si mesma, acolher a si mesma, perdoar a si mesma, unir cada um de seus lados.

Esta mulher que sofre muito com tantas e tantas visões em seu espelho, mas quem aprende, a cada dia, que evitar sua sombra não a fará desaparecer, enquanto iluminá-la e refleti-la poderá transformá-la com a profundidade necessária para vencer a si mesma. Uma mulher que luta contra a própria ansiedade e se esforça a entender que essa mudança é dolorida, e, não surpreendentemente, leva tempo.

Essa mulher que é boa o suficiente para si mesma, mas sabe: ainda tem muito que se amar.

Anjos todos: obrigada por compartilharem meu sonho, minha jornada, humana e verdadeira.

Durmo agora, mais cansada que ontem, ainda ferida pelo ontem, porém com um olhar mais límpido que ontem, cabeça mais erguida, com pés mais seguros, com compaixão e amor-próprio mais intensificados, tudo este tanto mais agora do que foi na noite antes dormida, tudo menos do que me caberá sentir quando o sol de amanhã raiar. Digo, contundo que desde agora, algo é completo, apesar infinito. Carrego comigo muita, muita gratidão no coração.

Porque quando me faltou amor suficiente por mim mesma, não me foi permitido esmorecer, não me foi permitido o longo sono, não me foi permitido. E foi com amor, apesar da franqueza, que me senti erguida novamente.

E quando reclamei da intensidade, e quando resmunguei da dor, quando tive dó e revolta por ser tudo assim, tão forte, tão furacão, quando desejei aquela vida leve e sem tremores, ouvi você dizer que esse foi o jeito que a minha alma encontrou de “ser” nessa vida, foi o caminho que a trouxe seu próprio desenvolvimento. Esse foi o encontro dela, a sua forma de estar, de crescer, sua força, sua estória. E se aprendi algo até aqui é que, por dignidade e merecimento, a minha alma vai falar por mim e ser exatamente aquilo que ela veio para ser.

Começo agora, pelo fato de amar a felicidade na minha vida.
E que permaneçam nela, vocês, meus anjos, tantos puros anjos, que me velam de longe, tantos pura luz, que me acompanham e abraçam, tantos tão humanos, que erram, choram e machucam, mas que me têm com amor e verdade.

1 de fev. de 2009

Pandora.


O sol vem chegando aos poucos em seus dias. É muito difícil se esconder do sol num verão quente como esse. O sol, lá fora, despretensiosamente esquenta seus dias, e ela sente esse conforto do calor em seu corpo, como se fossem se afastar todos os fantasmas.

Por dentro, porém, ela sabe. Lá no fundo, a caixa de pandora. Ali guardada, fechada em seu peito, esse pequeno câncer, uma nuvem, uma pedra.

Algumas vezes, quando percebe que não vai mais agüentar e que o ar não consegue exatamente entrar, ela senta-se, sozinha, e abre sua própria caixa.

É quando tudo vem. Toda a dor, o aperto, a vontade de jogar-se nesse poço, buraco negro de um sono profundo, não pensar, não ouvir, não ouvir mais nada. Aperta forte o peito como se seus dedos pudessem anestesiar a dor. Sem medo, e reza por sua cura, para esquecer, enquanto revira página a página dos escritos em sua caixa, enquanto revive cada cena, revê todos os sorrisos, recorda cada beijo, perde-se outra vez no amontoado de diálogos, todas as frases, cada mágoa dele, cada crítica, e principalmente tudo aquilo que ela sabe que existe, mas nenhum dos dois teve coragem de falar.
Quer evitar a culpa, mas é a mesma voz que não cala. É um monstrinho devorador, que resolveu chamar de “E Se”.

E se eu tivesse dito? E se não escondesse meus sentimentos, sem medo de suas reações e apenas dissesse o que me incomodava? E se eu não tivesse se preocupado tanto em não ferir-lhe o ego, ou seu próprio (sim, especialmente o seu) e conseguisse ser sincera suficiente para conversar sobre o que angustiava, sem precisar sabotar pelas bordas o dia-a-dia, sem precisar recorrer a todo subterfúgio e em seguida arranjar desculpas para as próprias faltas, e se conseguisse, tranquilamente, contar, que algo faltava, e explicar, e se tivesse a coragem suficiente para olhar nos seus olhos e dizer, “ah, amor, sinto tanto em dizer, mas há algo de errado aqui.”

Detestava o fato de não terem conversado abertamente a respeito. Naquela mesma manha, quando se deu conta que seu relacionamento poderia terminar, decidiu vencer seus medos infantis e conversar com ele. Não podiam continuar daquela forma, fingindo que não fazia qualquer diferença. Ambos tinha tido relacionamentos antes, ambos sabiam sobre o quanto não era natural.

E durante todos aqueles meses, subtraindo os que tentou esconder verdades de si mesma, durante todos esses meses via e revia essa conversa em sua cabeça, pensava em que palavras usar, sem magoá-lo, sem temer o que ouviria em retorno. Sem enfrentar o turbilhão de coisas que aparecem quando as cartas são arremessadas na mesa.

Mas não conversaram. Naquele dia, já era tarde demais.
Não conversaram mais nunca. E ela jamais saberia o que teria sido, se teriam vencido, se as coisas iriam mudar. Ela jamais saberia se poderiam ser mais. Se poderiam SER, na verdade.

Agora, restava o bichinho do “E Se” perfurando seus ouvidos, tirando seu sono, navegando constante em um barco a vela por rio que optou chamar “culpa”.

Barcos a vela viajam lentos, em especial nos dias de pouco vento. Barcos a vela às vezes param ancorados entre pedras de solidão.

Ela não queria mais navegar por ali, ela não podia mais contá-lo, não conversariam, nunca saberia, “e se” era um mostro cruel que deveria morrer no meio de suas próprias divagações, um sem saída, um entrave, uma não-solucionável e alucinante questão. “E Se” era sua dor de cabeça. E tudo mais que doía.

E se ela parasse de ponderar agora, muito provavelmente, seria sua melhor opção.

"Vai ver é só você querer, distante imaginar..."

Não havia mais reflexo. Nem raios de sol, nem sombras, não havia imagem contrária a sua para que pudesse ver e, um pouco mais literalmente, refletir.

E enquanto ninava sua dor, acarinhando suas culpas e perdoando seus erros, enquanto alimentava com ternura o amor por tudo que era ela, para que continuasse caminhando com a velha paz intensa em seu coração, enquanto lutava contra tudo que a afastava de si mesma e contra toda a dor da separação, era impossível não pensar.

Sabia que teria que respeitar seu silêncio, respeitar a distância que ele escolheu para eles, respeitar a absoluta falta de reflexo. Mas era impossível não pensar.

Seria mesmo fácil assim? Será que ela já tinha morrido de suas memórias, lembranças, pensamentos, será que ela não representava mais nada, e que os dias passavam sem ela por dentro, tanto quanto estava ausente por fora?

Angustia queimando no peito por ter sido essa página tão facilmente virada, de ter sido “mais uma” e quem saber estar entre aquelas estórias que nem se sabe, que mal se lembram... – Ah, sim, foi. Passamos um tempo juntos. Não, não muito. Sim, está superado, já passou.

O egoísmo de suas idéias a angustiava ainda mais. Por que estão não sentia-se feliz com o fato de ele estar bem? Que vácuo de amor seria esse, que a fazia desejar para ele os mesmos apertos, os mesmos espasmos, a mesma saudade de algo que não existe mais?

Egoísta. E em mais um de seus loucos diálogos, pode ouvir-se responder.
Não é só isso. Eu gostaria muito era de um pouco de solidariedade. Era de saber... “Sim, tudo bem acabou. Mas veja, é triste pra mim também. É difícil. Tudo que foi teve seu significado e foi especial. Tudo que foi me faz falta e de vez em quando, mesmo que pouco, mesmo que só às vezes, aperta em meu peito.”

Ela queria ouvi-lo dizer que não era a única. Que esse sentimento, essa perda, essa falta, não eram só dela.

Ela já sabia que sim, haviam terminado. Que não haveria volta, já que esse não era um caminho que ele sabia ou desejaria trilhar. Que acabou.
Ela sabia disso.

Só deseja enxergar que pra ele também havia o amor. O Sentimento. A perda. A falta. A repetição de palavras que não paravam. Cíclicas. Ainda que por uma noite. Ainda que por alguns minutos. Ainda.

Não, não estava a saudade naquela conversar, não estava no encontro, não estava abarrotada em nenhuma das suas três caixas de e-mail.

A saudade não estava em qualquer lugar, e o amor... ah, o amor.... apenas “dificultaria ainda mais as coisas falar sobre isso.”

Seria mesmo assim tão mau se se encontrassem em um ponto entre todos e tantos sentimentos dela?