6 de set. de 2011

Como se não bastasse.


Parecia mesmo que não bastavam um ao outro.

Enquanto percorria, confuso, os retratos e maus tratos pelo computador, enquanto relia e-mails trocados sabe-se lá quando, ou quanto, ou com quem...
Matava-o a duvida. Dividi-la seria repartir parte de si mesmo, mas se escolher, sem desejar, sem opinar. Não. Não a veria outra vez, para outra vez repassar todas as noites, os retratos, os maus tratos registrados em seu computador.

Maldizia o mundo tecnológico. Preferia as cartas, assinadas ou apócrifas, mas de próprio punho, dignas de precisas investigações caligráficas e combatidas em duelos decisivos travados no final da tarde cinza de uma sexta-feira.

A espera do fim de semana não o ajudava em nada. Verificar registros em busca de conversas apagadas, ou passadas, ou que nem sequer existiram, mas desde então ressonavam em seus pensamentos, como os mais doces cânticos de amor – ou de morte.

Reservava-se, no entanto, o direito de não pertencê-la. Nos braços de outras, anestesiava sem culpas seus pensamentos mais sórdidos e descontava, ah, descontava, cada uma das traições não traídas, ou traídas, extraídas, naqueles poucos momentos de gozo e de prazer.

Parecia mesmo que não bastavam um ao outro.

E ainda assim ela era tudo que ele queria, tudo que não o sossegava, que o cegava, que não o deixa dormir após prazeres, lazeres, afazeres inventados para preencher seus medos-vazios.

Na janela ao lado, ela dormia.

Sonhava com longas noites de amor e brigas ferrenhas e violentas, revezando seus sonhos entre dores e alegrias, igualmente plenas. Ela dormia, sem escutar angustias ou gemidos advindos do quarto ao lado.

Ela dormia a felicidade dos que ignoram e, ainda assim, sonham.