25 de dez. de 2020

“Que recolhe todo o sentimento, e bota no corpo uma outra vez”



E se apaixonou novamente.

Quando já era impossível, foi possível em seus lábios: num beijo quente, lento, demorado, veio a paixão e a tomou nos braços, embalou seu corpo, afogou tudo que era e emergiu com a intensidade de um novo amor, mas sabor conhecido de dias passados, das memórias, das histórias. Era paixão, da que arrebata. Da indefinível, intensa, da que segue na roupa, no corpo, nos cheiros, da que você tenta desviar, burlar pensamentos, escapar... mas termina sem rédeas, envolta, a galopes.

Saudade que tinha de sentir tanta vida, dessa enchente, do vulcão, de tudo que ascende, queima, mas alaga, por ser chama e correnteza, por ser como o próprio sangue e ainda mais que o próprio sangue, por envolver dentro, por reverberar fora: pele - vibração, que te leva tudo e circula e te circula - ah, paixão.

Eram só desejo, em cada inalação. Era entrega, êxtase, calmaria e então êxtase, apenas êxtase, uma outra vez... E incendiaram as palavras. E afogaram pensamentos. E ficaram atentos, juntos, dentro e fora de si mesmos. Eram só desejo. E era tudo, simplesmente.




Foto: https://doutorjairo.blogosfera.uol.com.br/2018/01/26/molecula-do-beijo-pode-levar-a-droga-para-aumentar-o-desejo/

18 de dez. de 2020

"Cuida bem de mim... e então misture tudo..."



Sobre o contraditório e outras estórias... 
Não fale nada, não fale mais. 
Se fosse de ouvir velhas canções, não as permitiria em novos lábios. 
Não tente me mostrar que é diferente, tampouco explique que é igual. 

Quando acaba, acaba. 
Normal. 

Me convencer de que fui eu, 
diagnosticar doenças de amor... 
meu coração anda cansado, abatido, ai, 
meu coração Yemanjá, tanto que entoa os mesmos cânticos, 
o mesmo mar 

Meu coração felino, 
quer morar só no meu peito, 
mas te traz por acidente, ou por fraqueza, 
e eu esgoto as certezas, 
e me escondo entre os lençóis

Eu torço sua partida, 
e me contorço – sua presença.

15 de dez. de 2020

"Maybe if I told you the right words..."

Não lembrava de desculpas antes.

A sensação era justamente essa, nenhum pedido de desculpas, apesar das gentilezas e delicadezas, como resultado de qualquer briga ou conflito, vinham análises e ponderações, mas nenhum reconhecimento concreto de um erro, que se mostrasse forte o suficiente para justificar: “me desculpe”.

Seria assim agora também?

No lugar de um olhar sincero de empatia, de alguma autocrítica, do saber o quanto maltratou o outro, independente do outro, independente do erro do outro, da imperfeição do outro, da falta do outro... Saber o quanto machucou, por si mesmo: por suas falhas, suas faltas, suas imperfeições, e pensar que poderia ter escolhido um outro meio, pensar que se fosse hoje, faria diferente. Sentir na pele: “me desculpe”.

Seria assim agora também?

Inverter os papéis, virar o jogo, ganhar a partida: - "não fui eu o responsável, você me levou a isso, olha tudo que sofri, não foi fácil para mim, ninguém teria suportado, como você foi terrível"... 

O “erro” como simples reflexo das implicações do outro, praticamente única opção, questão de sobrevivência, até... O “erro” como não erro, como consequência das falhas alheias – nada teria sido assim se ela não tivesse ido por ali.

Mas ela o vê. E entende. E sente muito. 

do outro lado, sabe o quanto foi machucada e sabe que não deu causa a tudo isso, que não parou ali sozinha, mas acima de tudo – sabe que havia opções.

Outras saídas que não representassem essa.

 Outros caminhos que não envolvessem esses outros paralelos, esses buracos, esse abandono.

Fizeram suas escolhas. E as faziam agora, novamente.

Não conseguiria. Não levaria a conta inteira para casa, por mais triste e inegável que fosse a parte sua...

Porque a mesma luz que iluminava suas faltas, clareava também seu auto amor e todos os dias de sol, e todos os dias sem sol que se dedicou para melhorar.

Clareavam sua escolha por não repartir seu coração, seu corpo e seus desejos por aí, por sofrer a cada noite em que se afastavam, mas não correr para conectar outras linhas, segurar outros braços, outros barcos, pela correnteza.

Não perdia da boca o sabor do sal, da onda, do medo. E mesmo assim, caminhava, com coragem, - mas não seguiria pela metade. 



Foto: http://luarapresentes.blogspot.com/2013/10/desculpas-em-grande-estilo-enviando.html

13 de dez. de 2020

"Tears are gonna fall, rolling in the deep..."



“Oi. Não estou achando meus documentos em lugar algum. Você viu? Tô sem identidade...”  

E a ela coube essa estranha procura pela identidade alheia. 

Logo ela, que mal sabe quem é, na maior parte do tempo. E o que é isso de encontrar a identidade? O que, aliás, ela esperava achar? O que ele?

E quem é ele?

Por trás de tanto semblante e vaidades, será que ele lembrava ainda? Será que contava tudo, cada detalhe sórdido, cada desejo íntimo, será que derramava no divã, será que vislumbrava no espelho?

Ou só passava correndo e desviava o olhar, tentando desperceber o que conduzia ao oposto tanta gente, todo dia...

Tão libertador ser quem se é para alguém... tão delicioso é ser visto de verdade, de frente, pelo avesso, vulnerável e entregue a própria sorte, a maldade ou ao amor de um outro olhar...

A paz de não precisar esconder mais – a tela, a vela, a represa de coisas – de morder os lábios e revirar os olhos, de dar fim ao medo e aquela fagulha de vergonha que saltava, sem querer, de um sorriso nada bobo que vinha... reprimido.

Será que existe vida após a verdade? 

Será que existe amor? 


30 de nov. de 2020

"E agora, amor?"

 


E se te dessem uma chave para a abrir as portas do lado mais sombrio de alguém?

Se te dessem uma lente, capaz de enxergar o que há de mais sujo, de mais obscuro? 

E se te dessem o caminho exato para levantar a ponta do tapete, acessar toda poeira, todos os restos, toda imundice...

Mas e se essa chave abrisse também as portas para sua não-loucura?

Se essa lente te mostrasse o que seu coração já via, solitário, dolorido, sobreposto por um buraco negro e sem fundo no seu peito, onde tudo apenas se perde em um vácuo de sensações, dúvidas, incertezas...

Se aqueles restos imundos e toda a poeira fosse tudo que restasse para organizar os tijolos dourados que te levariam de volta – pra casa, pra vida, para alguma liberdade de tanta dor...

 Será que você (Ah!), será então que encontraria a coragem necessária, a força precisa para o giro, para abrir cada trinco, para ampliar cada pequeno ponto da escuridão do outro, cada destroço, cada farelo de luxúria e ócio que semearam suas longas e tristes noites?

Sempre gostei do brilho da lua na escuridão da noite.

Entre todas as mortes que me cruzaram, fui tentada, assediada, apaixonada, até... mas escolhi a vida em cada uma das vezes, e preferi os holofotes escandalosos da luz que quase, igualmente, cega: enxergar o que nunca deveria ser tão visto e arriscar petrificar diante da medusa, sofrer na pele o acesso a caixa de pandora, o efeito ensurdecedor da verdade (emudecedor, enlouquecedor?), o sabor amargo dos pensamentos distorcidos e nunca, jamais ditos – mas descobertos sobre a luz negra e a foice da própria morte.

A verdade nunca foi sem dor.

E ainda assim, me surpreende menor, leão que vira gato, diante do negro espaço dos meus medos.

E ainda assim, me surpreende melhor, quando me orgulho das minhas próprias mentiras, tão doces, infantis, tão bobas e inofensivas...

Na hora das verdades e holofotes resta um certo orgulho de mim mesma... da minha essência ingênua e intocada, fiel e pura, tão rara, perdida no desmoronamento dos caráteres e do imoral.

Verdade também não saber o que fazer de mim. Se inevitável ser contaminada na lama que piso, também me esmero em salvar o que restou de um coração partido. Tão louco como qualquer amor é louco, tão forte quanto qualquer guerreiro é forte, mas na esperança de não ser tão único no meio de tanto caos, de ter ainda a chance, algum sopro de vida, algum jeitinho de bater e que não maltrate a si mesmo. Algum jeito de luz.  Algum jeito de amor.




Foto: https://www.nytimes.com/2020/10/13/arts/design/medusa-statue-manhattan.html


“Viver é uma questão de início, meio e fim”


 

Me escreve uma carta.

Me escreve uma carta.

Ao menos ouvi na época em que ainda havia palavras. Esperança boba de um reencontro na esquina dos planos que estacionamos.

E agora? E agora que já não há mais nada?

Nada além de um desejo sincero em ter de volta todas as chaves, endereços, percursos, CEPs, retomar cada um dos meios que poderia ter de me acessar na vastidão de um planeta pequeno, num espaço imenso...

Não há mais carta. Não há caminho.

Girei a chave, mergulhei de cabeça entre o vão e a palavra e agora, afogada nas minhas próprias descobertas, não sobrou ar, não sobrou gravidade, ou tudo é lento como o dia que passa na janela independente da vontade, como um tempo escorregando e um corpo que se mexe, sabendo que acordou e tem medo do dia.

E como dizer que não tive luto? Ah, tudo que vivo, luto.

E a vida da gente é mesmo assim, com portas fechadas por chaves que entregamos, com sonhos que contamos e vamos abandonando, das culpas que sufocam, das escolhas que tememos.

Sinto o gosto de tudo que encontrei. É a mistura de um soco na cara com o embolado feroz em uma onda do mar. Quando falta o chão. Quando não se encontra o próprio corpo.

Sou água, sal, espuma e estilhaços de vontades.

Sou tristeza, destoando de todo esse sol.

Não ficou desespero. Nem ansiedade. Não ficou coragem.

Alguém só me diz: o que acontece com o amor?



Foto: https://imagin4rium.wordpress.com/2014/01/10/onda-violenta/

8 de set. de 2020

"É um insight soturno, é o futuro passando, na velocidade terrível da queda..."

Sobre a queda e outros demônios...


Naquele dia, caiu da bicicleta.

Na hora mesmo, não lhe pareceu nada demais, tombo leve, pouco machucou, o susto, impacto de deslizar sem controle, mãos e rosto encontrando com o chão.

Já dois dias depois, decidiu sair pra pedalar. Subiu na bicicleta, tentando ignorar e desconectar do corpo dolorido (sim, quarenta anos não são como os vinte, seu irmão não deixou passar...), tratou como mais um dia - um dia normal - fazendo aquilo que mais trazia prazer nos últimos meses, sentir o vento no rosto, a liberdade, a amplidão...

Não foi tão simples. A cada giro, a lembrança da queda, a sensação salgada e paralisante. O medo. Medo de repetir, a qualquer segundo, medo de uma pancada ainda pior, medo da curva, do desnível no asfalto, da velocidade... Medo de não ver o perigo, de não frear a tempo.

No início, tentou de todo modo racionalizar, dar proporção e advogar por si mesma: "você vem fazendo isso há meses, sem cair", "não está chovendo hoje", "aquela bicicleta era diferente"... Mas nada pareceu funcionar. Todos os argumentos tinham sentindo, mas vinha das entranhas o que gritava: "volte!", "pare!"... "você não é boa o suficiente, não tem o equilíbrio, a destreza, a prática... Vai cair", "desista". 

Ah, essa advogada é também cruel, soube transpor em pensamento o pânico, que ainda assim devorava mais que o verbo, secava a garganta e tensionava-lhe os ombros...

Seguiu em frente. Não sem chorar, algumas vezes, no caminho. Não sem doer as mãos, endurecer os dedos... E sempre com aquela voz ao fundo, da desesperança.

Mas ela era do ímpeto e dos planejamentos, algo não autorizava desistir... E decidiu ainda um novo desafio, um percurso maior, só pra garantir, só para não congelar...

A todo momento, o fantasma da sua queda a acompanhou. Entre as voltas do caminho, quase não achava o prazer e a alegria das saídas de antes, tentando parar o zumbido em seus ouvidos.

Pensou nos amores perdidos e nas dores do passado. Pensou em cada fratura de seu coração, nas ideias fixas de fracasso, nas vozes, no medo. Pensou no ímpeto e nos planos para não desistir.

Sentir o medo e continuar girando. O tremor e a taquicardia. O vento no rosto e a vontade de retomar a alegria.

Sua decisão era por novas memórias. Novas experiências que a afastassem da dor, o resgate, uma construção.

Memórias de vida que seguiriam, até que a queda estivesse cada dia mais distante, ocupando os vãos de espaços não-vazios. Até encontrar um novo ausente, até se dissipar, como fina névoa, entre as lembranças que quase já não conseguimos lembrar.



Foto: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjHApNLCAlZK9c1cTseF8UpnfLROuqq0MXSjLKXFbh8UrO6QksYmerSibLF36xTb8bFJUxe8Tcpl73KuwZcWIdVN1OBE9YCN4UZb1H_gV__oGTGItjD4Vvv9Kl-Ffxtii_IGrlL/s1600/bicicleta+montanhas.jpg

“No tempo da maldade acho que a gente nem tinha nascido”





Porque nem todas as palavras são doces.
Nem todos os risos, sinceros.
Nem toda foto, um retrato...

E acha mesmo que não dá pra notar?
Acha que é só disfarçar, que é assim, rápido, o tempo caminhar e esquecer?
Bem simples, de leve, ela vira pro lado, adormece...

Essas outras conexões
Postas, tapam buracos
Consolam, massageiam, acalmam
(e acalmam?)
Postas para reafirmar... "tudo-de-melhor-e-demais-belo-nesse-mundo... "
Como chamam mesmo?
(Máscaras).

Sigamos. Transformando em links cada insegurança, teclando, esquivando, fugindo se um rastro qualquer aparecer no meio de um café.

Alimentar o ego com o olhar alheio...
Impor, expor, ser visto.
Depois dormir, tranqüilo, preenchido, desejado.
E não se preocupe, se dormem ao seu lado.
(A ingenuidade é o new black.)

Diga ainda que não é nada (não foi nada, nada demais...).
E quem nunca? Agora mesmo, pode estar acontecendo pelo lado de lá... Vai saber! O mundo é um sem-garantias infernal.

Assim, sem bobeiras dessa vez.
E ser fiel anda tão démodé.
E ser transparente é oposto do sexy...
Melhor aqui, mergulhe aí, aproveite o sinal.
Depois conta se foi um deleite.
Depois diz se confortou seu coração, se amortece o buraco.

Depois, depois, depois, depois, confirma se mostrou cicatrizes, se abriu o peito, se chorou de angústia. Depois diz se valeu, ou se foi tudo isso, apenas isso: mais do mesmo.

Procura aí. Fica aí. Depois me conta...
Ou nem conta. 
Afinal, algumas coisas, ninguém tem que pagar.   

13 de jul. de 2018

..."Um pouco antes desse amanhecer, naquele instante em que acordei pra ver"...




Espera, um momento.

Deixa o dia começar, deixa o sol chegar, esquentar, deixa o hora, o sorriso, deixa o vento bater, o abrir da janela, deixa, deixa, eu virar pro outro lado e te ver...

Deixa a calma, deixa a alma preencher os segundos parados, os minutos que congelam naqueles segundo de trás....

Deixa o beijo... Um momento. Não chama, não pede, não tenta.... Deixa o espaço entre o vão e a palavra. 
Entre a palavra e a coisa, entre a coisa e o vão...  
Deixa eu te ver, deixa sentir...

Deixa a tua presença preencher os cantos, os contos, todos os sons do nosso amor... Deixa que cada nó se faça, e se desfaça entre nós.

Porque é assim que se chama, porque assim a chama, porque é assim que chamo, só pra mim... Amor. 





Foto: http://www.pranazen.com/mantenha-a-calma/

"... Parece que o coração carece e diz: ‘Para!’ silencia, se embrulha e se embaralha... "




Porque podemos parecer Fortaleza.
Escudo de aço, armadura impenetrável... Porque é possível calar, controlar qualquer som ou gemido, todo grito.
Porque podemos segurar o choro. Impedir que a lágrima chegue a cair, ou que essa mesma lágrima se forme, no canto do olho.

Porque podemos parecer Fortaleza.
Velha máquina 'descabeada' e sem wifi... Porque é possível bloquear, desviar toda fonte ou acessos, toda conexão. 
Porque podemos desligar a tomada.
Impedir que a mensagem se torne nuvem, ou que a ideia se torne mensagem, pelos teclados de um celular qualquer. 

Porque podemos parecer Fortaleza. 
Blindar o corpo, o olhar, ou mesmo o ar que nos circula naquele mísero instante.
Podemos parecer tanto, tão bem e convencidamente.
Podemos até acreditar, ou deixar que acreditem.
Podemos tudo isso, até mais.
Podemos.

E ainda assim, quase que óbvio, quase clichê: nem tudo que parece, nem tudo que se vê, é exatamente o que demonstra ser...

(Se a ideia era suportar de tudo, que bom já não dá mais. 
Se tudo que se arremessa fosse paz, não precisaria (pare) ser fortaleza...)

“These are the days it never rains but it pours”




Um dia de sol no meio da chuva,

Gotas de orvalho num dia de sol.

Todo o belo, doce, todo o sutil...

Furacão, granizo, terremoto, avalanche. Todos lindamente inesperados, imprevistos nos radares das brisas mal interpretadas, das nuvens de chuva mal lidas, dos tremores imperceptíveis.

O que pensa? O que responde que não seja dor, o que esconde que não seja o mesmo, o que propaga que não seja tão, simplesmente, inapagável?

Procure as respostas que ficaram faltando, procuro o diálogo que não aconteceu.

Deixe de fora todos os sem sentido do formato, abandono as antigas formas de sentir.

Lembre de cada flor ou pedra do caminho, tento não tropeçar pelos abismos que cruzam meus pés.

Tão tolos, tão perdidos...

Como se a escuridão de antes não fosse suficiente, como se os dias frios, as noites vãs, as ausências, a morte...

A morte que espreita aquele lado vazio, ou embaixo da cama, e que já levou o sono alguma vez.

Naturalmente...

Como um dia de sol no meio da chuva, gostas de orvalho num dia de sol. 





Foto: https://www.hellorf.com/video/28311832/similar

11 de jan. de 2018

"...Yours are the sweetest eyes I've ever seen..."


Eles esperavam um pelo outro.
Ao longo do caminho, se preparam para o encontro.
Passaram pelos dias de sol, os de chuva, as vezes nevasca, as vezes deserto... Atravessaram.
Passaram pelas noites vazias, pelas tardes cheias, pelos feriados de silêncio e pelos de barulho.
Viram multidões solitárias e estiveram plenos sozinhos.
Acreditaram, desacreditaram, depois acreditaram novamente.
Sentiram medo.
Um pouco, inclusive, quando se encontraram.
Bastante, talvez, quando se reconheceram.
Eles esperavam um pelo outro.
Foi um encontro com velocidade e receio.
Mas sabiam.
Foi um encontro com o prazer dos bons momentos.
Pois sabiam.
E eles esperavam um pelo outro. 

10 de jan. de 2018

"Because you know I'm all about that bass..."


Chegaram as noites de verão
O Beltane, o beijo, o aconchego das noites quentes...
E eles eram o próprio verão, transformando em brasa os mais lentos suspiros.

27 de dez. de 2017

"Eu sei também tem gente me enganando, mas que bobagem, já é tempo de crescer..."

Sobre Ela. 


Ela já me trouxe muitas coisas...

Tanta raiva me deu, esta Senhora. Ira, até, se posso dizer... E Dor, disposta de um jeito que a Dor não se deveria dispor. 

Dor assim, com D maiusculo, para não se menosprezar, para não subestimar.

Dor da que não desejo a ninguém, nem mesmo a ela. Mesmo com a raiva, mesmo com a angústia.

Trouxe ainda toda essa indignação. Muita, bastante... 

Como é possível? Não entendo. Tão contraditória, tão oposta à tudo que é isso... Então, por um "suposto amor" se pode tudo? Uma "paixão"? Vamos ignorar outras mulheres, suas estórias (desconhecidas) de vida, o quilo de sal que já comeram, cada pedra que enfrentaram no caminho, todos os leões que encararam, cada medo e dificuldade que fitaram, sem piscar, sem desviar.... Vamos chamar de falsas as suas versões? 

Que maior violência contra a mulher do que aquela que cometemos, conscientes, contra as que cruzam nosso caminho?

Ser contra essa violência é muito mais... É pisar cada passo com responsabilidade, considerando a "outra" sem competir, sem diminuir e, especialmente, sem a violentar e/ou humilhar com o menor dos nossos gestos.

Cada um de nós escolhe por onde seguir, que papel interpretar. Não somos responsáveis pelo papel do outro. Não nos isentamos da responsabilidade do papel que escolhemos representar. Fora da adolescência, não somos vítimas do nosso querer, nem objeto do querer do outro. 

Faço a minha parte: desde que esta Senhora entrou na minha vida, peso todos os meus pensamentos sobre ela.

Não sou perfeita. Senti muita raiva. Ira, até. Mas especialmente, senti indignação. Por tanta incoerência. Por todo descaso que me deferiu - a mim: a mulher, a mãe, a estória: desconhecida (mas nem tão incomum, mas nem tão alheia...).

Desde que está Senhora entrou na minha vida, peso todos os meus pensamentos sobre ela.

E procuro vê-la além de suas imperfeições. E sinto muito por todo mal que ela me causou. Ela. Que ela causou, por ser quem aparentemente é, e ter as atitudes que teve. Ela, por dizer o que aparentemente diz, pela maternidade, pelas amizades, pela estória do amor que acabou, pelos leões que supostamente matou, pela dita não violência. 

Pessoas assim nos fazem questionar sobre esperança, sobre confiança, até sobre amor. 

Mas vigio os meus pensamentos e palavras sobre ela.

Não vou pagar na mesma moeda. Não é olho por olho. Não me autorizo isso. Sou mesmo contra a violência. 

De mim, terá apenas a triste constatação da sua fraqueza. Porque um "suposto" amor não justifica tudo. Imagine menos. Tão menos... Porque atitudes pode negar todos os nossos discursos bonitinhos.

De mim, terá apenas o sincero desejo que a sua vida seja melhor. Para que não precise mais machucar ninguém, pra que possa ser alguém melhor pro mundo...

Feliz aniversário pra você! Não te dou meu ódio, não te dou minha raiva, minha dor, ou qualquer ressentimento. Todos eles se foram, ainda bem!

Deixo que cultive e colha suas próprias sementes, suas responsabilidades e consequências, como qualquer uma de nós pode fazer. 

Não desejo mal, não farei o mal... Posso dizer que te dou apenas isso: o desatar do nosso nó, a liberdade de seguir, desvinculada de mim, fora da minha estória, fora do meu alvo, do meu mal dizer... 

Siga em paz, se for de paz o seu caminho. Ou apenas siga... E leve seu rastro, seu lastro, seus restos. De você, não quero nada: absolutamente nada, além desse laço solto, do desatar, do fim do nós. 


Ah, e não se confunda comigo. Que possamos descruzar nossos caminhos. Simples assim.


Fonte da Foto: Disponível em: http://hospitalhacos.blogspot.com.br/2013/08/conheca-os-22-habitos-de-pessoas-felizes.html. 

22 de dez. de 2017

"Well, just wake up, kiss that good life goodbye..."


Vamos brincar de gangorra?

Com três impulsos te jogo no alto, mas não esqueça, podemos cair...

E esse gosto amargo da sua distância apaga dos meus lábios o beijo interminado de ontem... Beijo de despedida e eu nem sabia, beijava eu, desavisada, porque nunca sabemos exatamente qual dos beijos pode ser o último e talvez por isso eu beije cada um com tanta intensidade...

Já estive pronta pra ir, se é que se apronta pra isso... Já estive pronta pra ir embora, tão rápido quanto para irmos à Paris, ou ao Capão, ou para passar o Reveillon num beijo, ali na esquina, logo mais.

Já estive pronta pra ir, pois o meu coração  acelera, mas não arreia as malas onde não vê repouso, não finca os pés em terra que não seja fértil, não se permite amar sem a profundidade toda do oceano no olhar, e fica atento aos suspiros do verão.

Já estive pronta pra ir, mas você preferiu não deixar - e nunca saberei bem a verdade - se por capricho, por vontade, se só pra saber se eu ficaria, se pra saber se eu encaixava ali, entre as suas coisas mais preciosas, ou se caberia em alguma estante, alguma vitrine, algum canto especial que usamos para aquecer a alma em noites frias, ou pra tornar mais quente as noites quentes.

E esse gosto amargo da sua distância retira, lentamente, os véus singelos da paixão, põe abaixo a doçura de encantamentos, derrubando nossas noites com uma onda inesperada de informações, de testes, de percepções, de dados, de tudo aquilo que não se pede (até se nega!), quando a doçura é a dos encantamentos...

Não estava pronta agora, ainda arrematada pelo último beijo; não estava pronta agora, quando suas palavras se confundiam com acalanto; não estava pronta agora, quando o dia clareou entre nós e nossas horas continuavam as mais longas e quando toda a guarda te abria espaço pra me povoar, como em um jogo qualquer de conquistar territórios... Como quando os soldados desistem de guerrear.

Não estava pronta agora, mas com o amanhecer do dia, é o que era: um novo sol, uma nova manhã, e todo o carinho a ser embrulhado, guardado cuidadosamente em sua caixa de memórias, junto com as lembranças que não iria misturar nessa lama do agora, que seja lá porque afogava a tudo...

Guardaria longe as suas noites, as palavras, guardaria longe cada beijo, cada sensação. Guardaria longe toda a coragem de aproximar, de ser vista, de não esconder seus medos e estórias, de confessar seus medos e estórias, de se deixar seduzir. Guardaria.

O sol nascia, então. E terminava ali a noite passada.

Sentiu uma lágrima escorrendo, quente, pelo canto do olho. Queria um beijo, pra amparar...

Mas o sol nascia, então. E terminava, ali, a noite passada.

28 de nov. de 2017

"I hope you don't mind, that I put down in words... "


Proposta.

Vamos não nos casar?

O que a acha então, cada um com seu edredom, dormindo espalhados na cama e trocando mensagens gentis de boa noite, daquelas que aquecem o corpo e quase tem cheiro, e quase tem sabor...

Vamos não nos casar, esperar ansiosos nossa noite chegar, aquela ansiedade boa, aquela das borboletas, adolescente, saltitando pela barriga, das mãos geladas, do coração apressadinho...

Vamos não nos casar! Encher a banheira, comprar o champagne, e na nossa noite será sempre festa, sempre feriado, sempre offline...

Vamos não nos casar e nos abarrotar de gentilezas, de mimos, de primores, vamos vibrar no toque da campainha, no abrir da porta, e depois, sofrer um pouquinho na hora de partir, e ficar com o gosto da saudade na solitude...

Vamos adormecer nos braços da saudade que arrepia... Meio singela, meio sensual... A saudade que sussurra no ouvido: "me espera, volto já!" ahhhhh, vamos não nos casar!!!!

E nos falar no intervalo, e nos falar em todo intervalo, em cada brecha do dia, você me diz bom dia, manda flores, e eu tiro fotos loucas (e me prometo: será a última!), até uma próxima refeição (foto de comida, não!!!) e quando eu vir, já enviei, já foi, já mandei, vamos trocar fotos esquisitas e atrapalhar o trânsito das estrelas...

Vamos não nos casar e fazer de cada beijo uma estréia, de cada manhã primavera, de todas as noites nossas noites no coração um do outro.

Vamos não casar, ter tempo ao léu, cada um com cada um, sozinhos com nossos espelhos, vamos ter tempo de maturar, de crescer, até o outro chegar... e teremos novidades pra contar, um detalhe a mais pra desvendar...

Vamos não casar e usar alianças de tempo, de vento, de história, alianças de colorir, visíveis aos nossos olhos, visíveis em nossos olhos, visíveis para aquele que nos vir... Na fila do pão, no mercado, no meio do almoço, atravessando a rua ou esperando nosso encontro chegar...

Vamos não nos casar sem medo, sem padre, sem contrato, vamos não nos casar sem nem pressa, porque o nosso não-casamento será cuidadosamente planejado no universo do não-planejamento, perto do vale dos sem-expectativa, rodeado pelas flores de deixa-acontecer.

Vamos não nos casar e ser assim, como essas palavras, que pegam, amarram, afogam... que param o carro porque querem vir, urgentes, porque querem tanto, tanto, ser do mundo...!

E assim, de repente, seremos os não-casados menos e mais casados que "foram uma vez," dos que se ouvia e falava em cada conto de fadas (e de bruxas).

1 de abr. de 2017

"Pague os favores que me deve antes de sair..."

Ô saudade, vem você, mesmo no meio de tanta dor, do desespero, da afiliação...

Ô saudade, pede licença, seja mal vinda, junta seus panos, seus planos, seus danos, parta antes de chegar...

Ô saudade, já ia mal sem seu gosto nos lábios, não se atreva tomar meu corpo, não se alongue no meu coração...

Ô saudade se tudo peço, se é a sua morte, o posto, sem sorte, da minha solidão...

Demore (não), desmanche (então)
das lágrimas, todo o sal,
da noite, todo o escuro,
da ida, meu porto seguro.
E de você,
saudade, todo muro.