25 de nov. de 2009

Por uma vida menos bagunçada...


Desejava queimar todo e qualquer conto de fadas e príncipes encantados. Príncipes não existem. Não existem. ponto.

Olhava outra vez a cama bagunçada. As roupas espalhadas, toalha molhada, sapatos... A cadeira do quarto cheia de livros. Pra que mesmo perdeu o sábado prendendo estantes? Não importa.

As coisas dele se multiplicavam nos espaços vazios. Pia do banheiro sempre molhada, escova nunca na gaveta. Tesourinha - melhor não comentar. Havia papéis por todo lado, copo sujo sob a mesa de cabeceira, farelos de biscoito pelo edredom. Ele era amplamente destituído da capacidade de arrumar a cama, lavar os pratos, ou apenas colocar qualquer coisa no devido lugar. Será que estaria um pouco enraivecida?

E quem foi mesmo que disse que ela devia ansiar por aquilo? Pra que tanta pressa? Essa ansiada “junção” requer profunda maturidade, e agora era sabia o porquê. Nada de amor cor-de-rosa. Amar dá trabalho! Será que essas mocinhas, todas elas desesperadas por maridos, sabem disso?

Ah... Alguém devia ter ensinado na escola – muito mais importante que as técnicas de conquista de que fala a música, são as técnicas de tolerância à total falta de iniciativa masculina. Ah, Homens. Tão fortes certas horas, tão sonsos em outras.

E dizem que a culpas é das queridas mães, que resolvem criar principezinhos, incapazes de amarrar seus próprios cadarços... Será?

Arriscaria a campanha: Filhos de hoje, maridos de amanhã! Crie o "partido" que você gostaria de oferecer a sua filhA. Com “A” maiúsculo. Ou se inspirem no genro dos seus sonhos! Vai que funciona...

*Resolveu fazer uma pesquisa de mercado (já que pouco gosta de se intrometer em relacionamentos alheios...). Interrogou uma amiga, às beiras da festa de casamento:
- Namorei sete anos e decidi terminar. Ele era difícil demais!Cansei das briguinhas, do stress, da cobrança, da bagunça! Agora, tenho um ano com Paulinho. Ele disse que queria casar, eu topei.
- Hum... Então ele é mais “fácil” que o primeiro! Vocês devem combinar melhor...
- Que nada, amiga! Capaz de ser até mais difícil que o anterior! São novas cobranças, novas bagunças... Antes eu pelo menos eu conhecia bem todas!
- E você topou?
- pois é. E deixa eu falar devagar, pra não ser mal interpretada. Veja bem: não digo que é pra casar com qualquer um, sair correndo pra porta da igreja, não me entenda errado... Mas amiga, perceba, primeiro você tem que definir o que quer: se quer mesmo casar, se quer uma família.
- E depois?
- Depois, meu bem, a gente amadurece... ! E quando digo “amadurece”, quero dizer: entendemos que homens são homens, criamos nossos anticorpos, desenvolvemos nossa tolerância e fazemos o melhor possível pra mandar despercebidamente. Vez ou outra, funciona.se eu tivesse a maturidade de hoje antes, provavelmente teria casado com meu antigo namorado...

E lá se vão mais alguns quilinhos de sonhos e idealizações... homens certos, homens errados, maturidades... muito difícil aquilo tudo de uma vez!

Mentalmente, re-escutava o diálogo pré-nupcial, enquanto ele ajeitava a gravata.

Um beijo de café, e porta batida.

Não, ela não teria o resto da manhã pra arrumar aquela bagunça. Da última vez que checou, também tinha um emprego, e nos dois turnos - ou seja: restavam-lhe os segundos contados pra agarrar um iogurte e sair.

Olhou calmamente ao redor.

Seu quarto já não era o mesmo. Via o nome dele escrito em toda parte. E nos lençóis, o cheiro inconfundível, masculino, de seu amado. Lembrou do beijo de bom-dia. E da alegria da noite passada. Do abraço apertado antes de adormecer.

Bendita bagunça, pensou. Arrumaria tudo quando voltasse. E torceria, enfim, para que tudo estivesse mais uma vez bagunçado, na manhã seguinte.

Imagem: http://www.recomendocomcerveja.com/2008/03/03/bagunca-evolutiva/