10 de mai. de 2011

Porque Vinicius disse pra mim... (em sussurros)




AMOR


Vamos brincar, amor? vamos jogar peteca
Vamos atrapalhar os outros, amor, vamos sair correndo
Vamos subir no elevador, vamos sofrer calmamente e sem precipitação?
Vamos sofrer, amor? males da alma, perigos
Dores de má fama íntimas como as chagas de Cristo
Vamos, amor? vamos tomar porre de absinto
Vamos tomar porre de coisa bem esquisita, vamos
Fingir que hoje é domingo, vamos ver
O afogado na praia, vamos correr atrás do batalhão?
Vamos, amor, tomar thé na Cavé com madame de Sevignée
Vamos roubar laranja, falar nome, vamos inventar
Vamos criar beijo novo, carinho novo, vamos visitar N. S. do Parto?
Vamos, amor? vamos nos persuadir imensamente dos acontecimentos
Vamos fazer neném dormir, botar ele no urinol
Vamos, amor?
Porque excessivamente grave é a Vida.

Vinicius de Moraes


*foto extraída do site: http://diamantesdeacucar.blogspot.com/2010/06/ser-feliz.html

Porque não?



Porque pra mim o tempo não passa,
Porque me inspiro como respiro
Porque saudade se tem até de perto
Mas você não me parece tão distante

Porque desejo acordar nos seus braços
Porque conheço detalhes de seu riso
Porque um sonho pode ser só mais um
Mas sinto você, bem real

Porque nossas realidades se encontraram
Porque foi no mais exato e especial lugar
Porque não sei se foi só mais um golpe da magia
Mas é por você, e só você, que me encanto.

7 de mai. de 2011

O mundo aos meus pés...



Eram pés cheios de calinhos. Não que desgostasse, pois não se reclama de pés tamanho 34, ensejadores oficiais de elogios fofos dentro e fora dos sapatos.

Seus calinhos eram o que eram: marcas secas de longas caminhadas, discretas rachaduras, do tempo, das pegadas firmes, das mal pisadas, cicatrizes próprias de suas escolhas.

Ainda assim, resolveu livrar-se deles. Verdadeiras damas têm pés finos, macios, agradáveis, pele suave e hidratada em todos os pedaços.

Ora, os seus calinhos destoavam dos standart atual de delicadeza feminina. Era preciso enquadrar-se, curvar-se aos moldes adocicados de beleza, assim como seus não tão finos pés.

Marcou consulta. Um especialista. Analisou calo a calo, linha a linha, impressionado. Parecia mesmo assustado. Meus pés, me olhavam ainda mais assustados. Era um de dia difícil para eles.

Acalmei-os. O especialista ajudou: massagens e cremes perfumados, refrescantes... até a lixa foi gentil com eles.

Sai feliz e satisfeita. Tinha pés como os das mais belas, pés de artistas de cinema! Uau!

Uau! Uau, au, auuu, ai, ai, aiiii, poxa vida!

Como dói.

Foi isso. Meus sapatos me detestam. Todos, todinhos, só restaram umas velhas havainas, porque elas não odeiam ninguém, coitadas.

Era como se tivesse desaprendido a andar, de tão desajeitada que fiquei. Ai! Outro pedacinho que se contorcia, as voltas com as tiras de minhas sandálias vermelhas: lindas e cruéis.

Meus pés retrucaram. A cruel era eu. Lapidadora injusta de calinhos de proteção!

Quem mandou tentar andar com pés dos outros?

"Você me ama exatamente como eu gostaria..."


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Sorriu, como para um espelho.

Não sabia exatamente como seria ser amada.
Era apenas o silêncio de sua alma e a vontade de nunca, nunca parar – voltas musicadas de um carrossel sem curso, sem hastes, sem freios...

Desejava ligar e contar tudo. Palavra por palavra, proferir, ato obsceno e escandaloso que era a verdade que cercava, sem medo, sem preparativos, simples, direta.
- É você.
Não se sabe o fim da estória. Todos os prováveis e improváveis caminhos que os direcionariam dali, daquele inusitado encontro, das destemidas palavras, das palavras de agora, que mudariam tudo. Ou apenas direcionariam seus pés ao caminho que já era deles.
Não saberia.
E deslumbrada por não saber, sentava-se em frente ao computador, deixando que os dedos ditassem as palavras que lábio algum comportava... Ao menos não sem transformá-las em beijo, em desejo, em amor.
Não sabia exatamente como seria ser amada, exceto por si mesma: pois para amá-lo tanto, inevitável sorrir (como para um espelho), mesmo no mais chuvoso dos dias, a felicidade do amor.