27 de set. de 2010

"Sol de Primavera, abre as janelas do meu peito..."


Outubro que te espero,
Nem sei se logo quero,
Ou prefiro o lero, lero, lero, do barulhinho que vem
Zunindo, baixinho, no meu travesseiro
Antes de outubro chegar.

Falta pouco, pouco, tão pouquinho...
E ainda não sinto a casa arrumada,
Não sinto idéias no lugar,
Não sinto o barco no oceano,
Não sinto se rio onde devo parar,
Ou se choro, só, por me apegar.

Ah...!
Não sinto, acima de tudo,
O tanto quanto eu desejava estar
Só um pouquinho mais pra frente,
Antes de outubro chegar.


- E nesses dias, penso, cá, com meus botões, em cada degrau dessa escada que ainda falta pra subir. Penso em cada dor da mesma pancada, penso em mim, parada, mesma estrada, penso em que rumo todos os rumos vão, ou não, fadada. E é assim, pequenina, que sinto a chegada de outubro, e eu sem casaco de lã, sem sapatos de cristal, sem a voz mansa ou mente quieta, quieta assim, sou, sem estar. É primavera, dizem nos campos, não te preocupa, podes chorar. Cada lágrima vai como orvalho e o sol vem pra te enxugar. Mas pra ninguém é tão outubro quanto o outubro acertou ser, e vem sempre como aquele primeiro beijo, que se sabe, mas nunca se sabe, esperado, anunciado, beijado. E acordo estranha e confesso ou não peço, mas é em outubro, sem antes, sem depois, outubro certo, e eu, incerta, temo te beijar o beijo errado.

Foto: webrecados.com

22 de set. de 2010

Psicologia estudantil - Parte I


Escolher uma carreira foi uma árdua tarefa. Apesar de uma área pré-definida, não tinha idéia se seria melhor tentar pedagogia, jornalismo, publicidade, psicologia, direito ou, quem sabe, teatro? Não faltaram lhe conselhos e conselheiros. Entre os espetaculares e os absolutamente furados, era dificílimo diferenciar.

Como qualquer grave decisão que se possa tomar aos dezoito, mergulhou em águas turvas (eram poucos os peixes, alguns os corais, raras as baleias e inúmeros os tubarões...). Levou seu tempo até perceber a presença de simpáticos golfinhos e aprender a usar das próprias nadadeiras.

As dúvidas, porém, que imaginou partirem após a posse de um cone vazio com eco de diploma, só pioravam.


Foto: cutemama.buzznet.com

Psicologia Estudantil e o rumo de seu coração (Parte II)



Dia desses, decidiu mudar de rumo. Iria fazer psicologia. Reiniciar os estudos. Nova faculdade, mais madura. Novas aulas. Novas mensalidades. Novo passo – o “zero” passo, novamente.

Antes do ingresso programado, foi convidada pra dar umas aulas. Assim, acidentalmente.

E, talvez como acontece como toda paixão, acidentalmente, ela se apaixonou.

A paixão queima, tira o sono, dá arrepio da espinha. A paixão meio que enlouquece e ela perdia a fome quase tudo mais que não fosse o objeto de seu apaixonamento.

Dia desses, na saída da aula, uma aluna pediu uns conselhos. Problemas com o marido, que era contra seus estudos.

Dia desses, um aluno confessou-lhe as dificuldades de casa, a doença da esposa, as complicações com o filho, adolescente.

Dia desses, mais e mais pessoas, interessantes, complexas, vivas, preenchiam seus espaços, com olhos atenciosos e ouvidos abertos, a espera do que ela sequer sabia se poderia oferecer.

Mas oferecia. Ela estava apaixonada.

Seriam poucos a entender. Seu rumo eram vários rumos, sua carreira, várias carreiras e suas paixões... estas eram, agora, o mais puro, incondicional AMOR.

21 de set. de 2010

Queijo com goiabada.



Pensava que a sua vida de “casada” seria diferente.

Big step isso de morar junto.

Em sua cabecinha programável, tinha elaborado diversas listas, para cada aspecto da vida que seria a vida que iria ter. Estava tudo no máximo controle.

Teria que tomar banho todas as noites antes de dormir. E tirar o rímel, mesmo que chegasse exausta (ninguém merece olhos borrados logo de manhã). Não poderia mais faltar pão em casa. Alias, teria que programar o jantar (quem vai cozinhar? Toda noite? Ai...)

Nada de blusa velha pra dormir. Deveria providenciar novas camisolinhas, diferenciadas, para os diferentes períodos das suas luas.

A casa deveria estar sempre limpa. Trocar toalhas e lençóis com mais freqüência. Cheirinho de lavanda na cama. Nada de bagunça. Gaveta certa pra cada coisa, roupas guardadas no armário. Tudo dobrado. Afinal, seria um dobro.

E foi tudo tão assim, inesperadamente, rápido! Que bastou uma semana.

Sonhos de “alice” pelo ralo, junto com cada plano de um lar e harmonia perfeita.

Não tinha tempo de ser a “esposa” do conto de fadas. Não tinha forças, nem sabe dizer se tinha a instrução necessária pra isso.

Preocupou-se. Não tinha nada pra jantar. Ela era um desastre completo. Melhor o divórcio antes até de casarem-se, sem dúvidas.

Ele chegou. Ela acomodou-se, olhar distante, no canto do sofá.

Ele abriu a geladeira, o armário... pegou um pacote de cream crakers e manteiga. Sentou do seu lado e pôs longo beijo em seus lábios. Amanteigados.

E nas manhãs que acordava com olhos negros e borrados, ele também a beijava, sem parecer notar, ou como se aquele fosse o tom mais lindo do domingo.

Ela sorria. Não sabia nada mesmo dessa vida dobrada. Mas descobriu, feliz, que não eram precisas as dobras dos lençóis.


Foto: http://www.pampasonline.com.br/brasil.htm