18 de ago. de 2009

Mais uma ridícula carta. De amor.

Querido amor,

Vim te descrever algo especial do meu dia.
Vim por aqui porque aqui guardo minha poesia. E quem diria? Por tantos caminhos, vim descobrir um eletrônico pra mim mesma... Torço pra que minha eletrocarta chegue até você, pra que você me encontre aqui, falando de dentro de mim.

As estradas da Bahia são lindas. Nessa parte que passo, em especial, estou sempre rodeada de serras e chapadas, verdes e extensas, das quais absolutamente não sei o nome (essa minha falta de cultura geográfica!), mas conto com saber reconhecê-las se voltar por aqui, de tanto que as olho e nunca canso.

O sol em Barreiras é mais vermelho que de outros cantos que já vi. Ou mais laranja, tenho minhas dúvidas. Essa gema gigantesca iluminando o dia, forte e resistente como as pessoas parecem ser aqui. É um sertão com água, já que vejo rios em todo lado, mas sinto cheiro e gosto de sertão. É o sol do sertão que me queima a pele e o seu calor que resseca, sem dó, meus lábios.

Eu amo a estrada. Amo olhar pela janela e ver os lugares passando, amo me sentir viajante, andarilha sem muitos rumos, amo sentir que o mundo é tão grande, amo saber que meus pés pisam novo chão, que meus olhos vislumbram estas vistas pela primeira vez. Quero que me prometa, ou ao menos vigie essa minha promessa, de que mesmo quando achar meu lugar nesse mundo vasto, não vou deixar de juntar e levar tudo de mim ao desconhecido. Minha alma vibra explorando o novo. E estranhamente, esses meus passos aqui me aproximam do desconhecido que carrego por dentro.

Tenho viajado em silêncio. Até a idéia do som do carro é barulhenta demais pra mim. Deixo tudo desligado, exceto o coração. Não haveria mesmo música mais doce. Ele toca o dia e a saudade de você. Ele toca lembranças que nunca lembraria, palavras que jamais teria dado atenção. Gestos. Ele toca tanta coisa sua que não sabia que gostava. Ele toca a música de todas as coisas que quero dividir com você. Toca essa vontade de te ver e abraçar, de tanta coisa que ainda nem vivemos, mas que me vem, em música, exatamente agora.

Não bastasse essa alegria, hoje ganhei um presente. Peguei a estrada um pouco depois do programado e segui o pôr -do-sol. Sim, estava ali, estado de contemplação, justamente naquela hora do dia que eu mais gosto – quando o céu torna-se rosa, e mistura com os tons de azul, fazendo lilás... um degradê de tons de fogo alinhados com as montanhas. Não deve haver mais lindo horizonte.

Ah, sim, mas foi um presente pra mim. Sei que pode rir de tanta presunção, afinal o céu é céu e o sol é sol, mas este não era um céu ou sol qualquer. Era o meu sol, incandescente, espelho do mesmo ponto que energizo em mim, agora vivo e me beijando a pele. Era o meu céu, misturado em todas as minhas cores, com nuvens cor-de-rosa pairando sob meus corpos. Aquele, meu amor, foi o céu que sonhei, presente desembrulhado que só encontrei por ter vindo encontrar. Claro que chorei, como choro agora, só de lembrar... pessoinha chorona, essa eu.

De resto, a vida continua a mesma. Não cheguei a nenhuma grande solução, não achei a bendita resposta pra meu caminho daqui pra frente. No céu do meu sonho, agora real, não vi nenhum sinal ou seta pra me direcionar. Não achei a chave para meu mistério.

Só posso dizer que, se choro, é de alegria, e que a ausência das respostas não consegue esmorecer meu coração. Sei que tem um caminho pra mim, e não sei nem me explicar porquê, mas não estou ansiosa pra saber. Esta noite, apenas agradeço. E rezo pra que amanhã eu possa, mais uma vez, ver o pôr-do-sol. Quem sabe, nos seus braços.

Com amor e saudade,
Liana.