12 de set. de 2009

Desejava ser mais que palavras, mas sentia que escrito era sempre o melhor de si.



Escrevia doce e lento, marcando suas palavras pelo tempo das cidades. Grafava como seus dedos pudessem tocá-la ao tocar cada tecla, como se ali pudessem ser apenas o que são: algo os unia entre uma e outra palavra anotada, algo de cúmplice dominava-os, e impossível resistir...

Tentou muitas vezes se afastar. Chega disso, pensou. Mas aquele mesmo impulso do primeiro dia, a curiosidade que amarrou sem dó seus olhos e seu coração as batidas do dela, aos seus olhares-sorrisos e inexplicáveis, aquela mesma curiosidade o conduzia de volta ao local e hora marcada. Lá estava ele, esperando que as palavras o lembrassem o gosto de um beijo passado.

Deve ser alguma mágica. Nunca sentiu parecido. Palavras não pedem licença. Aberta a página, ela te derrama qualquer coisa muito antes que se possa escolher. Se caminhava na primeira linha, aquele era, sem dúvidas, caminho sem volta, guiado por algo de paixão, algo de vontade, algo de raiva e frustração, impossibilidade, algo de saudade.

Até que suas palavras começaram a sumir. Esvaiam-se, dissipavam-se com o vento. Toda a escrita dissolvia-se, tinta frágil de caneta ou papel batido de fax mal passado, apagando sua estória e levando, impiedoso, o passado deles, a voz dela em seu ouvido, o carinho no pescoço, a presença.

Ausente em texto, ela seria esquecida, e ele esquecido, e suas vidas seguiram o rumo comum das pessoas que não escrevem sobre si mesmas. Das pessoas que não escrevem sobre o amor. Das medrosas demais para estampar seus lábios num papel, de modo que o outro leia, e beije, num encontro encantando de lábios-palavras.

O texto se foi e seriam agora apenas passagem. Novos textos cobriram seus contos. Novos beijos apagariam suas falas. Era o fim do portal que o guiava até ela, a interdição da ponte entre seus planetas distantes, ligação cortada e celular fora de área.

Sem as palavras, eram menos ainda que comuns. Era apenas the trobled water, passada e revirada, sem ponte, sem barco, sem nota. Sem o outro para lay me down, ou ease my mind.... Sem palavras-mãos pra acalentarem, suaves, seu rosto. Sem bote salva-vidas. Conto de fadas. Ou de bruxas. Não havia back-up pra tudo que podiam, mas deixaram, por esquecer.