4 de jun. de 2009

Uma ou outra noite.


Uma súbita vontade de brindar com você.

Abrir a garrafa guardada, inaugurar as duas taças que ganhei de presente e para as quais sorrio sempre que abro o armário.

Vontade de ajeitar a sala, deitar nas almofadas, ficar em silêncio: o silêncio dos amantes, não constrangedor, não indelicado, o silêncio quebrado apenas por uma ou outra batida mais forte em seu peito, um ou outro beijo, ou pelo barulho distante de ondas do mar.

Vontade de observar com calma os traços de seu rosto. De sair decorando cada sinal, mesura exata de uma ou outra cicatriz, as pequenas marcas da sua história, alegrias, cansaços. Decorar seu jeito de espreguiçar, de rir, seu olhar compenetrado ou distraído. Decorar cada pedaço de você até montar um livro, ilustrado com suas gravuras.

Bater uma ou outra foto, apenas de cenas que tivessem cheiro, para perfumar meu quarto na sua ausência. E respirar você, numa pausa encaixada em seu pescoço que me levaria a quase adormecer, de êxtase e embriaguez.

Vontade beijar o canto de seus lábios por um longo, longo tempo, até que as bocas se procurassem, escorregassem uma na outra; até me aninhar em seus braços, enquanto você despenteia meus cabelos.

Brindaríamos com os olhos da intimidade, distraídos com a paz de um dia qualquer: a noite não marcada em calendário. Só mais uma noite – uma nossa noite - depois de acertamos os relógios para chegarmos, uma ou outra vez, juntos.

Colocaria um vinil na vitrola. Teríamos vinil e vitrola, e por insistência minha, logicamente. Você preferiria um ou outro giga de alguma coisa, em formato codificado demais pra meu entendimento. Riríamos da minha antiguidade. Sorriríamos à toa.

Antes de dormir, penso na dança que nunca dançamos, na noite que foi curta demais e que, de tão longa, ainda é, que ainda acontece pela sala, por toda a casa. Pergunto-me se a física quântica explica noites que se perduram no tempo e no espaço. Pergunto-me se alguma coisa explica. Pergunto-me quanto tempo vai durar. Pergunto-me se você saberia mais das respostas do que eu. Fico intrigada em minhas perguntas.

Penso tudo que ainda não sei sobre você. Em seus maus-humores, nos estresses cotidianos, nas preocupações. Penso no que tira seu sono e no que o traz pra você. Penso em como você deve ser nas manhãs de domingo, e o que preferiria pro café, almoço ou jantar. Penso em todas as preferências que desconheço. Penso no que detestaria e no que amaria a meu respeito. Penso se seria terno, e se me abraçaria em noite como essa. Se me abraçaria uma ou outra noite. Fico intrigada em meus pensamentos.

Ainda toca a música que não dançamos.
Disseram que dançando conhecemos o outro.
- Dança comigo antes de dormir?



Foto retirada de: http://roberta.atisano.zip.net/

Um comentário:

  1. Chato8:29 PM

    Muito... MUITO bom!!!!
    Não sei no que estava pensando, mas nesse você se superou. Parabens.

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E se o dito te inspirar a dizer, estou aqui.