26 de dez. de 2006

Disco arranhado no meu ouvido.


Nem sequer bateu a porta. Ódio. Pensou. E odiou a si mesma por saber de tudo muito bem. Algumas mentiras vêm em caixas de presente, enroladas com laço de fita e presas com bombons de chocolate (ou discos, ou livros).

Sempre soube das mentiras. Ela, garota relativamente politizada, lia livros difíceis, assistia documentários na televisão. Ela acordava cedo quase todo dia e mentalizava o que fazer pro dia dar certo. Estava acima da média, lhe ocorreu. Ainda assim. Mentiras.

Todo mundo mente. Ela se envergonhava das próprias mentiras e as evitava, fatalmente (nem sempre de contá-las, em todo momento de lembrá-las). Sabia da estorinha do mundo imperfeito, dos seres imperfeitos, dos erros, das faltas, da palhaçada absurda de tentarmos sem querer.

E olhava a fundo, procurando dentro as respostas, a explicação pelo insípido acometimento. Não havia. Não estavam.

Raiva. O pior eram as palavras ecoando - cada sílaba, cada locução, tudo que achou tão simplesmente encantador e acreditou, acreditou. Que droga. Acreditou. Acreditou mesmo.

Algumas frases não têm pra onde ir. As perdidas, órfãs filhas-da-mãe, querem fazer de você uma casa, como se fosse só isso, como se não houvesse mais nada... Empurram, discretas ou rudes, toda idéia, o pensamento mais saudável; elas embaralham bem por trás do coração, cospem na alto estima e saem mastigando o bom humor até o estômago. Ainda não sei que bom humor resiste à dor no estômago.

Elas repetem e repetem e repetem (sempre tive horror a disco arranhado). Tanto, que às vezes lotam o corpo-casa possuído e inundam os olhos, mudando-lhes o brilho, alterando-lhes o tom. Frases e palavras-mentiras (ou verdades) vazam meus olhos equanto tento, em vão, escondê-las entre os dedos.

(Não se escondam. Todos choram frases repetidas, em especial no verão).

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