13 de dez. de 2020

"Tears are gonna fall, rolling in the deep..."



“Oi. Não estou achando meus documentos em lugar algum. Você viu? Tô sem identidade...”  

E a ela coube essa estranha procura pela identidade alheia. 

Logo ela, que mal sabe quem é, na maior parte do tempo. E o que é isso de encontrar a identidade? O que, aliás, ela esperava achar? O que ele?

E quem é ele?

Por trás de tanto semblante e vaidades, será que ele lembrava ainda? Será que contava tudo, cada detalhe sórdido, cada desejo íntimo, será que derramava no divã, será que vislumbrava no espelho?

Ou só passava correndo e desviava o olhar, tentando desperceber o que conduzia ao oposto tanta gente, todo dia...

Tão libertador ser quem se é para alguém... tão delicioso é ser visto de verdade, de frente, pelo avesso, vulnerável e entregue a própria sorte, a maldade ou ao amor de um outro olhar...

A paz de não precisar esconder mais – a tela, a vela, a represa de coisas – de morder os lábios e revirar os olhos, de dar fim ao medo e aquela fagulha de vergonha que saltava, sem querer, de um sorriso nada bobo que vinha... reprimido.

Será que existe vida após a verdade? 

Será que existe amor? 


Nenhum comentário:

Postar um comentário

E se o dito te inspirar a dizer, estou aqui.