“Oi. Não estou achando meus documentos em lugar algum. Você viu? Tô sem identidade...”
E a ela coube essa estranha procura pela identidade alheia.
Logo ela, que mal sabe quem é, na maior parte do tempo. E o que é isso de
encontrar a identidade? O que, aliás, ela esperava achar? O que ele?
E quem é ele?
Por trás de tanto semblante e vaidades, será que ele lembrava
ainda? Será que contava tudo, cada detalhe sórdido, cada desejo íntimo, será
que derramava no divã, será que vislumbrava no espelho?
Ou só passava correndo e desviava o olhar, tentando
desperceber o que conduzia ao oposto tanta gente, todo dia...
Tão libertador ser quem se é para alguém... tão delicioso é
ser visto de verdade, de frente, pelo avesso, vulnerável e entregue a própria
sorte, a maldade ou ao amor de um outro olhar...
A paz de não precisar esconder mais – a tela, a vela, a represa
de coisas – de morder os lábios e revirar os olhos, de dar fim ao medo e aquela
fagulha de vergonha que saltava, sem querer, de um sorriso nada bobo que
vinha... reprimido.
Será que existe vida após a verdade?
Será que existe amor?
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