9 de jan. de 2014

"Ah, se já perdemos a noção da hora..."



E no intervalo, o amigo se queixava:
- Gosto dela. O problema é essa presa... É como se ela me dissesse: “tá... pronto! Vai ser com você: e VAMO LOGO.” Sabe como é?

Sim, ela sabia. Pressa era um sentimento bastante familiar. Pensou em como essa tal e específica pressa feminina assusta os homens, enquanto a maioria das mulheres passa tanto tempo procurando ouvir justamente o“vamo logo” de alguém que elas verdadeiramente se interessem. Nos sonhos dourados femininos, esse alguém de quem se gosta vem com toda a pressa, diz que ama, que não consegue ficar longe... não?
Ah, sim, os tempos estão mudando... Mas olhava em volta e ainda via balões cor-de-rosa, inflados com pensamentos e ideais do amor romântico.
Pensou na sua própria pressa. Pelo que tinha pressa, na verdade?
Sua pressa mudava o foco e já nem estava mais no mesmo lugar desde a última vez que a procurou. Pensou na alegria de estar exatamente onde estava e em todos os percalços que a trouxeram, pensou que sua pressa era medo, que seu medo era controle – ou a falta dele –, pensou que a solidão, a pressa, o medo, o controle, e tudo mais que tentava não ver só a perseguia (e com mais pressa!), cada vez que tentava fugir.

Lembrou do amor grand hotel, da paixão atropelada pelo caminhão e transformada em ‘bom dia’. Da paixão que ela achou que viveria para sempre. Lembrou que Iaiá era apenas um retrato tirado por alguém que pecou na vontade e se atirou, depois de óbvios utópicos beijos e de constatar que “prever serviu pra eu me enganar”. Iaiá, tão invisível quanto a mulher do filme, projetada milimetricamente, como uma capa de chuva - mas para proteger do amor e suas dores, formatada para poupar seu criador de toda a angústia da pressa (ou da falta dela), de todas as tolices que pertencem ao mundo dos que se apaixonam.

Ela ainda era 'de paixões' e não pretendia mudar. Se seus passos tornaram-se mais lentos, porém, ao longo do caminho, e se a paisagem lhe trazia novos ângulos e sons, sentia-se disposta a seguir.

De longe, ouvia: "- Não se engane, sangue quente corre em suas veias, e a própria natureza não cabe mudar".
Mas há no peito um coração de muitas canções e muitos ritmos – e no olhar a disposição para enxergar um pouco além e, quem sabe, dançar novas músicas.... (talvez, até, um pouco mais lentas).


Referências, citações e créditos: 
Foto: http://super.abril.com.br/blogs/como-pessoas-funcionam/por-que-as-vezes-tempo-voa-e-outras-vezes-se-arrasta/ 
Grand Hotel (George Isarael e Paula Toller)
Retrato pra Iaiá (Rodrigo Amarante)
A mulher invisível (Cláudio Torres)  

2 comentários:

  1. Ai minha florzinha.... voce e' tao inspiradamente doce!!! ADOREI!!!

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  2. Que nunca percas a paixão, pois é ela que movimenta a vida, seja com pressa ou serenidade,rs.
    Beijos saudosos

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E se o dito te inspirar a dizer, estou aqui.