Falavam constantemente. Tornou-se incontrolável, viciaram-se em gastar palavras por não dizerem nada do que poderiam pensar ou sentir com a presença um do outro. Enchiam-se, bocas e ouvidos - conversas tolas, velhas, conhecidas, repetições - “como vai?”, “vou bem, e você?”, “mas e você, tudo bem?”...
- Planos pra hoje?
- Tenho sim, (...) sair, (...) uns amigos, (...) um bar.
- ...
Pensou em parar de uma vez aquela conversa toda. Gritar, apertá-lo nos braços.
Não queria nada além de você por perto essa noite.
Olhei pro lado e te vi, rindo comigo de tantas outras coisas bobas, de tantas coisas sérias demais e sobre as quais também iríamos rir. Mais do que ver, digo que gostaria que fosse você do meu lado.
Não disse absolutamente nada. No conseguia dormir. No meio da noite, ele ligou.
Qualquer pessoa no mundo que já gostou um pouco de qualquer outra pessoa no mundo conhece a sensação: o sorriso esticado, meio sono/meio sonho, sorriso sonso que vem junto com a ligação às duas da manhã. Perde-se o peso dos ombros, qualquer tristeza, qualquer melancolia. Perde-se quase e tudo, pela eufórica insônia, que é certa de chegar quando for pressionada a tecla end no celular.
Talvez ele também percebesse, talvez ele sentisse. Por um segundo, não havia amigos, nem bar, nem saída. Era ele chamando, era o telefone. Era ela, eufórica e insônica*, abraçando o travesseiro, feliz-triste-pouco-arrependida-mas-ainda-alegre por todo o então chamado juízo que ocasionara seu “não” àquela visita, àquela noite.
*licença, licença. Obrigada.
"Insônica" ficou muito bom, não podia ser outra palavra.
ResponderExcluir:)
Soou genial a palavra "insônica"... rs... brilhantemente, ou seria mente brilhante??? Bjos!
ResponderExcluirPS - Falando nisso, quando vc terá outra noite insônica como daquele dia que conversamos??? rs