Ela chegou pontualmente. Tinha certeza, eles combinaram, tudo era muitíssimo específico: hoje, cinco e meia da tarde. Depois de ontem, no tempo exato da cicatrização das paixões mais devastadoras (precisamente ridas e choradas. Definitivamente idas). Um pequeno intervalo depois dos lençóis secarem na calçada, das lágrimas passarem, desentupirem veias, aortas, logo depois daqueles calafrios que sentimos quando a paixão e o amor estão se despedindo. Acharam melhor se despedirem de tudo que se fora.
Marcaram ainda antes das borboletas na janela. Seria antes do espasmo, antes do espanto, antes daquele certo veneno que provamos quando embriagados pela nossa própria companhia e nada mais. Seria alguns minutos antes do sol se pôr.
Eles marcaram tudo, cronometrados.
Justamente por isso, não entedia. A verdade é que estava lá. Sozinha. Teria errado o local, talvez....
Era aquele mesmo ponto que nenhum dois dos conhecia, exceto pela foto estranha no jornal, pelos comentários secretos de casais apaixonados – era o lugar que nunca tinha sido dele, nem dela. Pensavam que assim poderiam consumi-lo, cada ângulo, cada sombra passaria a ser ele e ela sem virgulas, sem acentos. E com pôr-do-sol.
Como se sabe, ele não foi. Ele não foi e o relógio do mundo corre muito mais rápido que o deles, portanto o momento passou e portanto a porta bateu pouco antes de seus olhos cruzarem.
Do outro lado da rua, ele seguiu outros enredos, ela tocou outros discos. Numa outra esquina, dançaram outras musicas e atropelaram.........
O que foi mesmo que atropelaram? Ninguém lembrava... Alguns segredos precisam ser esquecidos muito, muito rápido... Alguns segredos dão medo se lembrados (por isso, sequer guardá-los).
Não foi culpa dela. Nem dele. Ou foi culpa de ambos, para os que acreditam que alguém tem sempre que levar a culpa.
Não foi culpa dela. Nem dele. Ou foi culpa de ambos, para os que acreditam que alguém tem sempre que levar a culpa.
Liana, esse texto está muito bom mesmo. Continue exercitando este musculo literário que vc demonstrou aqui. Estruture e trabalhe em mais textos sempre e procure se introsar para mandar algumas destas coisas para jornais e outras midias. Pense em fazer cronicas do cotidiano e publicar. Traga fatos da vida real e do mundo publico para dentro do immagiário opinativo do seu eu e misture tudo, depois faca um lobbying com os jornais para publicar ou revistas. Isso tem futuro. Augusto Jucá
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