19 de mar. de 2007

"...A sua estupidez não te deixa ver..."




Disfarce.

Vivia sua vidinha como se não devesse satisfação pra ninguém. E não devia mesmo. Há alguns anos aprendeu a não ligar para a maioria das coisas importantes para maioria das pessoas e de alguma forma isso se tornou rentável.

Escrevia a tal coluna antipática no jornal, as pessoas odiavam e liam compulsivamente. Convidaram para escrever um livro. Roteiro para um talk show da MTV. Sua intolerância à humanidade era sucesso de audiência. E ele, que não queria ser amado por ninguém, era um idolozinho moderno.

Ele não amava ninguém. Por isso, não lhe faltavam companhias para os dias frios, para as noites quentes.

Atraia todo tipo de mulher, as mais raras, as mais belas, todas dispostas a tentar quebrar seu gelo. Ele ria das tentativas frustradas. Há muito aprendeu que não é possível se apaixonar.

As suas escolhas foram feitas e ele não estava disposto a mudar. Não queria correr o risco de preencher o vazio que levou anos para construir com uma mulherzinha e suas peculiaridades.

Não iria se apaixonar. Não se prenderia a nada além de pequenos momentos de prazer e farras, cortesia de seu sucesso barato.

Ganhava corações de brinde. E os dispensava como talos de cigarro.

Ganhou o coração dela, após pequenas batalhas pouco cansativas que lhe rederam alguns arranhões. E o perdeu antes mesmo de dispensá-lo.

Orgulho ferido, conseguiu um band-aid na página seguinte. Nova foto, novo recado, mais uma pra coleção. Não era ela (gosto estranho do cigarro que não tinha fumado).

Pela janela, dava a entender que era insignificante. Se agarraria a qualquer coisa para não estar ali agora.

Ficaria com o band-aid. Fingiria. Seria de novo o vazio, de novo invencível. Dessa vez, tomaria mais cuidado.

3 comentários:

  1. Anônimo1:29 AM

    Para o "ser insignificante" deixaria o seguinte poema...

    "De tudo, ao meu amor serei atento
    Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto
    Que mesmo em face do maior encanto
    Dele se encante mais meu pensamento.

    Quero vivê-lo em cada vão momento
    E em seu louvor hei de espalhar meu canto
    E rir meu riso e derramar meu pranto
    Ao seu pesar ou seu contentamento.

    E assim, quando mais tarde me procure
    Quem sabe a morte, angústia de quem vive
    Quem sabe a solidão, fim de quem ama

    Eu possa dizer do meu amor (que tive):
    Que não seja imortal, posto que é chama
    Mas que seja infinito enquanto dure."

    Vinicius de Moraes

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  2. Tirando qualquer tipo de "velocidade", esse texto descreve bem uns detalhes da vida de um blogueiro metido a poeta que eu conheci há uns anos, :)

    Excelente texto.
    Beijo.

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  3. Anônimo1:15 PM

    Prefiro esse tipo de texto.. Mais leve tipo um conto. Sei que as vezes é preciso desabafar.. entretanto como sei q vc sempre dá a volta por cima, acho este mais a sua cara. Beijos

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