12 de abr. de 2006

Entendimentos e Desentendimentos.


Sermão do mandato
Padre Antônio Vieira

Pinta-se o amor sempre menino, porque ainda que passe dos sete anos, como o de Jacó, nunca chega à idade de uso de razão. Usar de razão e amar são duas coisas que não se ajuntam. A alma de um menino, que vem a ser? Uma vontade com afetos, e um entendimento sem uso. Tal é o amor vulgar. Tudo conquista o amor quando conquista uma alma; porém o primeiro rendido é o entendimento. Ninguém teve a vontade febriciante, que não tivesse o entendimento frenético. O amor deixará de variar, se for firme, mas não deixará de tresvariar, se é amor. Nunca o fogo abrasou a vontade, que o fumo não cegasse o entendimento. Nunca houve enfermidade no coração, que não houvesse fraqueza no juízo. Por isso, os mesmos pintores do amor lhe vendaram os olhos. E como o primeiro efeito, ou a última disposição do amor é cegar o entendimento, daqui vem que isto que vulgarmente se chama amor, tem mais partes de ignorância; e quantas partes tem de ignorância tantas lhe faltam de amor. Quem ama, porque conhece, é amante; quem ama, porque ignora, é néscio. Assim como a ignorância na ofensa diminui o delito, assim no amor diminui o merecimento. Quem ignorando ofendeu, em rigor não é delinqüente; quem ignorando amou, em rigor, não é amante.

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