
O viu do outro lado da rua. De dentro do carro, sorria com os braços cruzados e apoiados sobre a janela, queixo encostado entre as mãos.
Congelou o mundo um segundo. Olhou novamente para ele. O sorriso, os olhos brilhando. Não saberia vê-lo e não amá-lo. Como se encontrariam dali pra frente?
Provava aos poucos o sabor doce das palavras que ele ainda não tinha proferido. Os gestos futuros, o som da risada. Enfeitiçava-a o êxtase do reencontro.
Talvez não devesse atravessar a rua. Voltaria, sem palavras. Ele interromperia o sorriso, mas entenderia, decerto.
Talvez não devesse atravessar a rua. Abaixaria a cabeça e subiria novamente as escadas, resguardando-se de tudo que dói, de tudo que ama, de tudo que é sobra de uma amor que não passa.
Talvez não devesse atravessar a rua. Deixá-lo para trás de uma vez, esquecer seu rosto e seu sorriso e não passar as próximas noites, não passar todas as noites a partir daquela noite esperando: por aquele sorriso, por aqueles olhos, por aqueles braços cruzados e apoiados no carro, do outro lado da rua.
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