Cansei
De cada dia, da velha estória, do descontrole total dos seus, dos meus passos... Correlatos.
Não sou mais a mesma – e nem você, e passo o tempo para redescobrir o que um dia foi, tentando, em vão, reencontrar o que amei inteira, o que quis e talvez queira, o que pretendia viver - e mal deu pra tentar.
Se sou mesmo essa nuvem, neblina no reflexo dos seus dias, se não caibo mais entre a segunda e a segunda feira, se não te toco quando rio, nem choro, se não sou pra você.
Que sentido podemos fazer, quando tudo que se sente é angustia, a voz abafada do meu coração, lamentos em verso, que rimam, em lagrimas, melódicas, e igualmente tristes.
Porque pensar em tudo que existiu já não me contenta mais, apenas sua sombra num vale azul, quando meu céu já vai negro, pela tempestade que invadiu, abrupta, noite gélida que entrou a janela.
Estava sim, aberta, devidamente conquistada em cada fresta, sentindo um vento do qual achava protegida, quando a mesma brisa se transforma em crueldade, e não importa quantas vezes contemos estrelas, será ainda insatisfeita a minha estória.
Termino porque foi longe demais.
Não vi a estrada quando peguei o caminho, não medi os entraves, as encruzilhadas, não percebi as voltas e intempéries, não avistei o abismo ou a vastidão do labirinto que envolveria meus passos, que seria então meu caminho,
Engoli seco cada palavra-comprimido que você prescreveu, aceitei como o enfermo, na procura incansável de uma cura, deixei de lado preconceitos e acreditei na pílula milagrosa, num xarope mágico de convencimento, do eufemismo prático, floreando sua proposta de todas as formas, para que soasse quase irressistível.
Calei todas as vozes da minha cabeça e as ao meu redor, calei o mundo – nada se ouvia que não você, nada podia, nem devia saber, seria apenas meu - segredo guardado, como quisessem roubado, perturbado, lacrado – e todo o barulho só interrompe o efeito do remédio que escolhi - perigosa interação de medicamentos, interferindo no sorriso que eu montara a tanto custo, pra usar com você.
E com eles.
Termino porque não existiu.
Termino porque já acabou.